24 de setembro de 2016

SÍRIA CONFUNDE-ME


As notícias sobre a Síria deixam-me confuso, muito confuso.

Os meios de comunicação social apresentam o governo sírio e a Rússia como os maus da guerra civil que envolve o país há mais de quatro anos com um saldo horroroso: 250 mil mortos e 11 milhões de deslocados interna e externamente.

Que o Exército Livre da Síria e os Estados Unidos são os bons da fita, porque combatem o regime iníquo de Bashar al-Assad que usou armas químicas contra a população civil de East Ghuta (nos arrabaldes de Damasco) a 21 de agosto de 2013, matando muitas crianças.

Que Assad e os russos bombardeiam colunas de camiões do Crescente Vermelho com ajuda humanitária e destroem a cidade de Aleppo, a segunda maior do país a a mais importante em termos económicos.

Freiras católicas que vivem na Síria contradizem a narrativa oficial! E deixam-me confuso…

A Ir. Guadalupe, uma missionária argentina que vive na Síria, revelou num encontro público em Espanha que as manifestações de apoio a Assad no início da guerra civil foram reportadas pelos media estrangeiros como sendo contra o presidente.

Que a oposição ao regime sírio é liderada por jiadistas estrangeiros que à boleia da Primavera árabe tentam depor Assad.

Que a Síria era um país com elevados níveis de bem-estar e harmonia social antes da guerra civil, apesar de ser uma ditadura, e que os jiadistas estrangeiros arruinaram o país, vestindo a pele de vítimas da guerra civil.

Que os grupos muçulmanos que combatem Assad têm uma agenda secreta: acabar com os cristãos na Síria.

A Ir. Myri, uma monja portuguesa a viver num mosteiro de Qara, na Síria, fala dos russos como os amigos dos sírios e dos cristãos, que os defendem do fundamentalismo islâmico e da matança dos cristãos.

A Ir. Agnes Mariam, uma monja católica libanesa da Ordem da Unidade de Antioquia superiora do Mosteiro de Qara, na região de Homs, no centro da Síria, publicou um estudo a denunciar que os vídeos do ataque químico a Ghuta são falsos.

Que as crianças supostamente gaseadas por Assad foram mortas pelos radicais muçulmanos noutro ponto do país e usadas para fins de propaganda.

Que nas imagens só aparecem crianças – as mesmas em localidades diferentes e em posições diferentes, mas com as mesmas roupas.

Que nos vídeos só aparecem homens adultos (supostamente jiadistas) não representando o fabrico social do país.

Que algumas imagens são do Egito.

Alguns sectores acusam a monja de ser pró-presidente Assad e sua propagandista, o que ela desmente.

Os vídeos do suposto ataque químico a Ghuta forma usados como argumento para legitimar o envolvimento da comunidade internacional na guerra civil síria.

Fazem-me lembrar a evidência que o general Colin Powell aprestou na ONU em 2003 sobre as capacidades nucleares e químicas do Iraque – que eram puras fabricações mas serviram (e bem) para justificar a invasão do país e lançar, matar Sadam e deixar a região numa grande confusão.

O último rebento da crise do Iraque é o Estado Islâmico ou Daesh, que nasceu e cresceu numa área não controlada pelas forças do governo e depois apanhou a estrada da Síria.

Por detrás da propaganda sobre a guerra civil síria há também uma possível conspiração escatológica: diz-se que os cristãos radicais americanos apoiam a fortalecimento de Israel através da destruição dos países vizinhos para apressar a última vinda do Messias.

Assis: APELO A FAVOR DA PAZ


Homens e mulheres de diferentes religiões, congregamo-nos, como peregrinos, na cidade de São Francisco. Aqui em 1986, há trinta anos, a convite do Papa João Paulo II, reuniram-se Representantes religiosos de todo o mundo, pela primeira vez de modo tão participado e solene, para afirmar o vínculo indivisível entre o grande bem da paz e uma autêntica atitude religiosa. Daquele evento histórico, teve início uma longa peregrinação que, tocando muitas cidades do mundo, envolveu inúmeros crentes no diálogo e na oração pela paz; uniu sem confundir, gerando amizades inter-religiosas sólidas e contribuindo para extinguir não poucos conflitos. Este é o espírito que nos anima: realizar o encontro no diálogo, opor-se a todas as formas de violência e abuso da religião para justificar a guerra e o terrorismo. E todavia, nos anos intercorridos, ainda muitos povos foram dolorosamente feridos pela guerra. Nem sempre se compreendeu que a guerra piora o mundo, deixando um legado de sofrimentos e ódios. Com a guerra, todos ficam a perder, incluindo os vencedores.

Dirigimos a nossa oração a Deus, para que dê a paz ao mundo. Reconhecemos a necessidade de rezar constantemente pela paz, porque a oração protege o mundo e ilumina-o. A paz é o nome de Deus. Quem invoca o nome de Deus para justificar o terrorismo, a violência e a guerra, não caminha pela estrada d’Ele: a guerra em nome da religião torna-se uma guerra contra a própria religião. Por isso, com firme convicção, reiteramos que a violência e o terrorismo se opõem ao verdadeiro espírito religioso.

Colocamo-nos à escuta da voz dos pobres, das crianças, das gerações jovens, das mulheres e de tantos irmãos e irmãs que sofrem por causa da guerra; com eles, bradamos: Não à guerra! Não caia no vazio o grito de dor de tantos inocentes. Imploramos aos Responsáveis das nações que sejam desativados os moventes das guerras: a ambição de poder e dinheiro, a ganância de quem trafica armas, os interesses de parte, as vinganças pelo passado. Cresça o esforço concreto por remover as causas subjacentes aos conflitos: as situações de pobreza, injustiça e desigualdade, a exploração e o desprezo da vida humana.

Abra-se, finalmente, um tempo novo, em que o mundo globalizado se torne uma família de povos. Implemente-se a responsabilidade de construir uma paz verdadeira, que esteja atenta às necessidades autênticas das pessoas e dos povos, que impeça os conflitos através da colaboração, que vença os ódios e supere as barreiras por meio do encontro e do diálogo. Nada se perde, ao praticar efetivamente o diálogo. Nada é impossível, se nos dirigimos a Deus na oração. Todos podem ser artesãos de paz; a partir de Assis, renovamos com convicção o nosso compromisso de o sermos, com a ajuda de Deus, juntamente com todos os homens e mulheres de boa vontade.

23 de setembro de 2016

COMBONIANAS ELEGEM NOVO CONSELHO GERAL


Irmãs Luigina, Kudusan, Rosa, Eulalia e Ida

As Irmãs Missionárias Combonianas elegeram um novo Conselho Geral durante o XX Capítulo Geral que está a decorrer desde 5 de setembro na Casa-mãe de Verona, em Itália sob o tema Ousar a mística do encontro para a missão comboniana, hoje.

A superiora geral foi a primeira a ser eleita a 21 de setembro: a Ir. Luigia (Luigina para os amigos) Coccia recebeu o voto de confiança da maioria das irmãs capitulares.

É italiana, psicóloga e tem 47 anos.

A Ir. Luigina sucede à brasileira Luzia Premoli, que presidiu aos destinos do Instituto das Pias Madres da Nigrícia (Pie Madri della Nigrizia, o nome original da congregação) desde 2010.

A Ir. Luzia, 61 anos, é a primeira mulher a integrar um dicastério vaticano: faz parte da Congregação para a Evangelização dos Povos desde 2014 a convite do Papa Francisco.

A Ir. Luigia partiu para Yaounde, nos Camarões, em 1998 para estudar o francês e teologia. Em 2001 chegou à República Democrática do Congo para um período de serviço missionário de seis anos. Em 2007 regressou à Itália para fazer uma especialização em Psicologia da Vida Religiosa.Era superiora provincial da RD Congo- Togo desde 2014.

Numa pequena mensagem-vídeo a Ir. Luigia agradeceu a confiança das irmãs capitulares.

Entretanto, as capitulares já elegeram suas as quatro conselheiras gerais: as irmãs Rosa Matilde Téllez Soto, Kudusan Debesai Tesfamicael, Ida Colombo e Eulalia Capdevila Enríquez.

A Ir. Rosa é peruana e tem 51 anos. Trabalhou no Uganda, na América Central e na província de origem. Participa no Capítulo como provincial do Equador, Peru e Colômbia.

A Ir. Kudusan Debesai Tesfamicael nasceu na Eritreia há 53 anos. Professora de formação, é missionária no Sudão desde 1995. Era superiora provincial.

A Ir. Ida Colombo é italiana e tem 57 anos. Trabalhou como missionária no Peru. Era a Provincial da Europa (Portugal, Espanha, Reino Unido).

A Ir. Eulalia Capdevila Enríquez é a mais nova do Conselho Geral. Nasceu perto de Barcelona, Espanha, há 40 anos. Formada em agricultura, era ecónoma provincial da Zâmbia onde estava desde 2005. Está no Capítulo como delegada.

A equipa da direcção geral das Missionárias Combonianas está completa: é uma equipa jovem e variada, embora as europeias estejam em maioria. 

Agora as capitulares vão preparar as linhas gerais do programa de governo para os próximos seis anos.

O XX Capítulo Geral das Missionárias Combonianas termina a 30 de setembro, em Limone, a terra natal de São Daniel Comboni.

Daniel Comboni fundou as Pias Madres da Nigrícia a 1 de janeiro de 1872. 

Hoje, as 1250 combonianas estão em 35 países e vêm de 35 nacionalidades.

22 de setembro de 2016

SÓ A PAZ É SANTA E NÃO A GUERRA!


O Papa Francisco pronunciou na Praça São Francisco o discurso conclusivo do Encontro de Oração pela paz, em Assis: "Não nos cansemos de repetir que nunca o nome de Deus pode justificar a violência. Só a paz é santa e não a guerra!"

Santidades,

Ilustres Representantes das Igrejas, Comunidades cristãs e Religiões,

Amados irmãos e irmãs!

Com grande respeito e afeto vos saúdo e agradeço a vossa presença. Viemos a Assis como peregrinos à procura de paz. Trazemos connosco e colocamos diante de Deus os anseios e as angústias de muitos povos e pessoas. Temos sede de paz, temos o desejo de testemunhar a paz, temos sobretudo necessidade de rezar pela paz, porque a paz é dom de Deus e cabe a nós invocá-la, acolhê-la e construí-la cada dia com a sua ajuda.

«Felizes os pacificadores» (Mt 5, 9). Muitos de vós percorreram um longo caminho para chegar a este lugar abençoado. Sair, pôr-se a caminho, encontrar-se em conjunto, trabalhar pela paz: não são movimentos apenas físicos, mas sobretudo da alma; são respostas espirituais concretas para superar os fechamentos, abrindo-se a Deus e aos irmãos. É Deus que no-lo pede, exortando-nos a enfrentar a grande doença do nosso tempo: a indiferença. É um vírus que paralisa, torna inertes e insensíveis, um morbo que afeta o próprio centro da religiosidade produzindo um novo e tristíssimo paganismo: o paganismo da indiferença.

Não podemos ficar indiferentes. Hoje o mundo tem uma sede ardente de paz. Em muitos países, sofre-se por guerras, tantas vezes esquecidas, mas sempre causa de sofrimento e pobreza. Em Lesbos, com o querido Irmão e Patriarca Ecuménico Bartolomeu, vimos nos olhos dos refugiados o sofrimento da guerra, a angústia de povos sedentos de paz. Penso em famílias, cuja vida foi transtornada; nas crianças, que na vida só conheceram violência; nos idosos, forçados a deixar as suas terras: todos eles têm uma grande sede de paz. Não queremos que estas tragédias caiam no esquecimento. Desejamos dar voz em conjunto a quantos sofrem, a quantos se encontram sem voz e sem escuta. Eles sabem bem – muitas vezes melhor do que os poderosos – que não há qualquer amanhã na guerra e que a violência das armas destrói a alegria da vida.

Nós não temos armas; mas acreditamos na força mansa e humilde da oração. Neste dia, a sede de paz fez-se imploração a Deus, para que cessem guerras, terrorismo e violências. A paz que invocamos, a partir de Assis, não é um simples protesto contra a guerra, nem é sequer «o resultado de negociações, de compromissos políticos ou de acordos económicos, mas o resultado da oração» [João Paulo II, Discurso, Basílica de Santa Maria dos Anjos, 27 de outubro de 1986, 1: Insegnamenti IX/2 (1986), 1252]. Procuramos em Deus, fonte da comunhão, a água cristalina da paz, de que está sedenta a humanidade: essa água não pode brotar dos desertos do orgulho e dos interesses de parte, das terras áridas do lucro a todo o custo e do comércio das armas.

Diversas são as nossas tradições religiosas. Mas, para nós, a diferença não é motivo de conflito, de polémica ou de frio distanciamento. Hoje não rezamos uns contra os outros, como às vezes infelizmente sucedeu na História. Ao contrário, sem sincretismos nem relativismos, rezamos uns ao lado dos outros, uns pelos outros. São João Paulo II disse neste mesmo lugar: «Talvez nunca antes na história da humanidade, como agora, o laço intrínseco que existe entre uma atitude autenticamente religiosa e o grande bem da paz se tenha tornado evidente a todos» (Discurso, Praça inferior da Basílica de São Francisco, 27 de outubro de 1986, 6: o. c., 1268). Continuando o caminho iniciado há trinta anos em Assis, onde permanece viva a memória daquele homem de Deus e de paz que foi São Francisco, «uma vez mais nós, aqui reunidos, afirmamos que quem recorre à religião para fomentar a violência contradiz a sua inspiração mais autêntica e profunda» [João Paulo II, Discurso aos Representantes das Religiões, Assis, 24 de janeiro de 2002, 4: Insegnamenti XXV/1 (2002), 104], que qualquer forma de violência não representa «a verdadeira natureza da religião. Ao contrário, é a sua deturpação e contribui para a sua destruição» [Bento XVI, Intervenção na jornada de reflexão, diálogo e oração pela paz e a justiça no mundo, Assis, 27 de outubro de 2011: Insegnamenti VII/2 (2011), 512]. Não nos cansamos de repetir que o nome de Deus nunca pode justificar a violência. Só a paz é santa; não a guerra!

Hoje imploramos o santo dom da paz. Rezamos para que as consciências se mobilizem para defender a sacralidade da vida humana, promover a paz entre os povos e salvaguardar a criação, nossa casa comum. A oração e a colaboração concreta ajudam a não ficar bloqueados nas lógicas do conflito e a rejeitar as atitudes rebeldes de quem sabe apenas protestar e irar-se. A oração e a vontade de colaborar comprometem a uma paz verdadeira, não ilusória: não a tranquilidade de quem esquiva as dificuldades e vira a cara para o lado, se os seus interesses não forem afetados; não o cinismo de quem se lava as mãos dos problemas alheios; não a abordagem virtual de quem julga tudo e todos no teclado dum computador, sem abrir os olhos às necessidades dos irmãos nem sujar as mãos em prol de quem passa necessidade. A nossa estrada é mergulhar nas situações e dar o primeiro lugar aos que sofrem; assumir os conflitos e saná-los a partir de dentro; percorrer com coerência caminhos de bem, recusando os atalhos do mal; empreender pacientemente, com a ajuda de Deus e a boa vontade, processos de paz.

Paz, um fio de esperança que liga a terra ao céu, uma palavra tão simples e ao mesmo tempo tão difícil. Paz quer dizer Perdão que, fruto da conversão e da oração, nasce de dentro e, em nome de Deus, torna possível curar as feridas do passado. Paz significa Acolhimento, disponibilidade para o diálogo, superação dos fechamentos, que não são estratégias de segurança, mas pontes sobre o vazio. Paz quer dizer Colaboração, intercâmbio vivo e concreto com o outro, que constitui um dom e não um problema, um irmão com quem tentar construir um mundo melhor. Paz significa Educação: uma chamada a aprender todos os dias a arte difícil da comunhão, a adquirir a cultura do encontro, purificando a consciência de qualquer tentação de violência e rigidez, contrárias ao nome de Deus e à dignidade do ser humano.

Nós aqui, juntos e em paz, cremos e esperamos num mundo fraterno. Desejamos que homens e mulheres de religiões diferentes se reúnam e criem concórdia em todo o lado, especialmente onde há conflitos. O nosso futuro é viver juntos. Por isso, somos chamados a libertar-nos dos fardos pesados da desconfiança, dos fundamentalismos e do ódio. Que os crentes sejam artesãos de paz na invocação a Deus e na ação em prol do ser humano! E nós, como Chefes religiosos, temos a obrigação de ser pontes sólidas de diálogo, mediadores criativos de paz. Dirigimo-nos também àqueles que detêm a responsabilidade mais alta no serviço dos povos, aos líderes das nações, pedindo-lhes que não se cansem de procurar e promover caminhos de paz, olhando para além dos interesses de parte e do momento: não caiam no vazio o apelo de Deus às consciências, o grito de paz dos pobres e os anseios bons das gerações jovens. Aqui, há trinta anos, São João Paulo II disse: «A paz é um canteiro de obras aberto a todos e não só aos especialistas, aos sábios e aos estrategistas. A paz é uma responsabilidade universal» (Discurso, Praça inferior da Basílica de São Francisco, 27 de outubro de 1986, 7: o. c., 1269). Assumamos esta responsabilidade, reafirmemos hoje o nosso sim a ser, juntos, construtores da paz que Deus quer e de que a humanidade está sedenta.

Assis – Praça de São Francisco, 20 de setembro de 2016

Papa Francisco

21 de setembro de 2016

PROPOSTAS COM MISSÃO


O Presidente da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização fez três propostas para reacender o entusiasmo missionário na Igreja em Portugal.

Dom Manuel da Silva Rodrigues Linda propôs durante uma homilia nas Jornadas Missionárias 2016 a realização de uma concentração anual de missionárias e missionários em Fátima, desafiou os Institutos Missionários a retomarem actividades de animação nas escolas e paróquias e pediu orações pelos missionários e pelo seu serviço.

Dom Manuel explicou que é bom homenagear todos os missionários – sobretudo os mais idosos que vivem em cadeiras de rodas ou em centros de cuidados continuados longe das atenções – através de uma concentração anual em Fátima e encarregou as Obras Missionárias Pontifícias de organizarem o evento.

Recordou os missionários do passado com as carrinhas cheias de livros, revistas, calendários e almanaques a visitarem paróquias e escolas e projectarem filmes da missão e desafiou os missionários de hoje a inventar novas formas de animação para abrir as paróquias e as escolas públicas e privadas à universalidade da Igreja.

Finalmente, sublinhando o valor único da oração, pediu aos fiéis que continuem a rezar pelas missionárias e missionários, sobretudo por quem se encontra em situações físicas, culturais e sociais difíceis e de violência.

Três propostas com a missão em música de fundo para uma Igreja mais missionária em Portugal.

20 de setembro de 2016

ASSIS DE PAZ


O Papa está hoje em Assis para rezar pela paz com líderes de outras religiões, prémios nobéis, refugiados e pessoas de boa vontade.

Francisco convidou os católicos a juntarem-se a ele fazendo uma pausa para rezarem pela paz.

«Convido as paróquias, as associações eclesiais e cada fiel de todo o mundo a viver este dia como um Dia de Oração pela Paz», disse durante a oração do meio-dia de domingo passado.

«Hoje, mais do que nunca, temos necessidade de paz nesta guerra que existe por tudo no mundo. Rezemos pela paz! A exemplo de São Francisco, homem de fraternidade e clemência, somos todos chamados a oferecer ao mundo um forte testemunho de nosso compromisso comum pela paz e a reconciliação entre os povos. Assim, terça-feira, todos unidos em oração: cada um tome um tempo, aquele que puder, para rezar pela paz. Todo o mundo unido».

O Dia de Oração pela Paz cerra a iniciativa «Sede de paz – Religiões e culturas em diálogo» que envolveu mais de 450 representantes de igrejas e confissões religiosas e o mundo da cultura de diversos países, organizada pela Comunidade de Santo Egídio.

Faustin-Archange Touadéra, presidente da República Centro-africana afirmou na abertura do evento que «onde se reconstroem lugares de oração, renasce a paz».

Francisco marca com a visita a Assis os 30 anos do evento homólogo organizado pela primeira vez pelo Papa João Paulo II a 27 de outubro de 1986. 

A Jornada Mundial Inter-religiosa  de Oração pela Paz foi um gesto profético sem precedentes muito criticado pela Cúria Romana e pelos setores católicos mais conservadores.

O evento reuniu centena e meia de representantes de credos diferentes e foi o contributo católico para o Ano Internacional da Paz, proclamado pela ONU.

Cobri o encontro para a Além-Mar e guardo essa memória: homens e mulheres de religiões diferentes, muçulmanos, sikhs, judeus, xintoístas, zoroastristas, giantistas, bahais, das religiões tradicionais africanas e ameríndias, cristão de todas as confissões, a pedirem a paz para o mundo nas suas cores, sons e gestos.

«O congregar de tantos dirigentes religiosos a orar é em si um convite ao mundo para se dar conta de que existe uma outra dimensão da Paz e uma outra maneira de a promover, que não é resultado de negociações, compromissos políticos ou discussões económicas. É o resultado da oração que, na diversidade das religiões, expressa a relação com o poder supremo e ultrapassa as capacidades humanas», explicou São João Paulo II.

O Papa Woitila voltou a Assis para rezar pela paz em 1993 e 2002, no rescaldo do 11 de Setembro de 2001. Bento XVI, que há 30 anos como da Doutrina da Fé se opusera ao evento, também lá rezou em 2006 e 2011.

O Encontro de Oração pode ser seguido na Internet através do CTV, o Centro Televisivo do Vaticano.

«O Senhor da paz, Ele próprio, vos dê a paz, sempre e em todos os lugares» (1 Tessalonicenses 3, 16).

19 de setembro de 2016

HISTÓRIAS DE MISERICÓRDIA


MISSÃO COM HISTÓRIAS DE MISERICÓRDIA 

Jornadas Missionárias 2016
Comunicado final

As Jornadas Missionárias Nacionais 2016 decorreram, a 17 e 18 de Setembro, no Centro Paulo VI, em Fátima, com a participação de cerca de 250 pessoas, vindas de todo o país.

O P. António Lopes, diretor nacional das Obras Missionárias Pontifícias (OMP), deu as boas vindas, abrindo os trabalhos. D. Manuel Linda, Presidente da Comissão Episcopal ‘Missão e Nova Evangelização’, abriu as Jornadas com uma palavra de incentivo missionário. No ‘ide por todo o mundo’, não obstante a escassez de Missionários/as, vivemos tempos de aumento de geminações entre dioceses e paróquias de Portugal e dos quatro cantos do mundo. É necessário avivar o ardor missionário e o tema escolhido atrai e faz partir ao encontro do outro como Missão recebida de Jesus. É urgente aprofundar a comunhão e colaboração com a Igreja local.

Os participantes puderam olhar três rostos de misericórdia. No Sudão do Sul, o P. José Vieira, comboniano, viveu a Missão da misericórdia não como um conceito abastrato mas um encontro de corações no contexto de uma guerra civil que continua a massacrar um povo pobre. No Japão, o P. Adelino Ascenso, Missionário da Boa Nova, viveu a sua Missão, traduzida por três simples adjetivos que caracterizam a vida de Jesus: débil, companheiro e maternal. Na Amazónia, o Luis Fernandez, leigo da Consolata, partilhou a sua vida e luta em defesa dos povos indígenas da Amazónia. Partiu com a esposa e lá nasceram três filhos. Viveram as alegrias e angústias de um povo espezinhado, ajudando a formar líderes e construir comunidade. Lembrou que ‘o desafio maior da Missão é ouvir o clamor da terra e dos pobres. É defender a vida!’.

A tarde de sábado foi preenchida por cinco workshops que enriqueceram os participantes com partilhas e reflexões sobre o desenvolvimento, o voluntariado, a ecologia integral, a inclusão e a reconciliação.

A Irmã Myri, natural de Mafra e Monja na Síria, partilhou a experiência da sua comunidade monacal em contexto de guerra civil. O Convento nasceu por causa do empenho pela unidade dos cristãos e do diálogo com todos os crentes. Lembrou que, ‘cada um de nós é uma história de misericórdia onde somos convidados a olhar para Cristo e ver no irmão a presença dEle’. O trabalho dos missionários na Síria é de alto risco porque sem armas na mão, partilhando os sofrimentos de um povo pobre e mártir.

D. Juan José Aguirre, Bispo de Bangassou, na República Centro Africana, partilhou a Missão de uma Igreja perseguida até à morte por grupos armados de fundamentalistas islâmicos e não islâmicos que semeiam o pânico entre as populações e querem erradicar o cristianismo de África. Lembrou o momento forte que foi a visita do Papa Francisco a Bangui, onde abriu a Porta da Misericórdia antes ainda de o fazer em Roma. Como Bispo é um construtor de pontes. Contra a violência, a Diocese opta sempre por construir escolas e projetos de desenvolvimento.

Tempos fortes destas jornadas foram os momentos de celebração, quer no auditório dos encontros quer nas celebrações oficiais do santuário, sobretudo a Eucaristia presidida por D. Manuel Linda, em que foram enviados em Missão seis Missionários.

Em contexto de Jubileu do Centenário das Aparições de Fátima, as Jornadas Missionárias Nacionais 2017 serão realizadas a 16 e 17 de Setembro.

1 de setembro de 2016

EFEITO BORBOLETA


A saída do Reino Unido da União Europeia pode causar turbulências na África.

Vivemos numa sociedade globalizada, enredados numa teia complexa de interdependências expressa no efeito borboleta da teoria do caos, que diz que o bater de asas de uma borboleta num lado do mundo pode causar um ciclone no outro.

Os cidadãos do Reino Unido votaram no dia 23 de Junho, em referendo, pela saída da União Europeia (UE). Logo que o resultado foi conhecido, um número significativo de britânicos choraram-no. Pouco depois os políticos conservadores que encabeçaram a campanha pela saída saltaram do barco assobiando para o ar como se não tivessem tido nada que ver com a decisão cujas consequências cedo se farão sentir na Europa, e além dela.

Com o Brexit – Br de (Grã-)Bretanha e exit, saída – perdem os africanos, por exemplo, em termos económicos e de advocacia e os britânicos em influência e mercado, dizem os especialistas.

Patrick Njoroge, governador do Banco Central do Quénia, disse que a maior economia da África Oriental ia sentir as ondas de choque do Brexit. Josephat Bosire Kerosi, que ensina Administração e Finanças na Universidade de Kigale, Ruanda, previu uma quebra no fluxo de ajudas por meio do investimento estrangeiro directo.

Para já, a África do Sul, que tem as empresas mais importantes cotadas na Bolsa de Londres, viu o seu valor cair e o rand enfraquecer.

Com a saída da Grã-Bretanha da UE, o processo de paz da Somália também poderá sofrer, pois sem o Reino Unido, o principal promotor, os Franceses podem tentar canalizar o dinheiro para o Mali, outro ponto quente do islão radical. O Uganda já anunciou que vai retirar as tropas da Somália, em 2017, por falta de apoios económicos.

O Reino Unido defendia a revisão da Política Agrícola Comum, que subsidia os agricultores europeus e embaratece substancialmente os seus produtos. Sem os Britânicos a exigir uma redução nos apoios ao sector, os agricultores africanos não conseguirão colocar os seus produtos no mercado a preços competitivos.

O Reino Unido também vê enfraquecida a sua relação com a África. Steve Barrow, do banco Standard Advisory London, disse à Radio France Internationale que «os únicos acordos que o Reino Unido tem com os países africanos são negociados através da UE. Uma vez que deixámos a UE, essas relações comerciais e acordos deixam de existir».

O governo de Sua Majestade vai ter de renegociar os acordos individualmente com os países africanos e competir com a China, Índia, Brasil, Turquia, Coreia do Sul e Japão por esse mercado. Os produtos britânicos – mais caros – vão ter dificuldades de penetração.

Por outro lado, se a economia britânica se ressentir com a saída da UE – e é bem possível que isso aconteça –, a África também sofre porque perde mercado para os seus produtos, incluindo as rosas do Quénia. A ajuda britânica à África também baixa.

A imigração poderá ser outro problema. Os defensores do Brexit apostaram forte no medo dos estrangeiros e estes vivem um futuro incerto nas Ilhas Britânicas. O Governo vai apertar o controlo das entradas e os africanos são, entre os imigrantes, os que mais se notam.

Finalmente, a batalha contra a corrupção global, a grande bandeira do ex-primeiro-ministro David Cameron, é dúbia, apesar de ser uma questão fundamental para muitos (des)governos africanos.