26 de agosto de 2016

CAMINHOS DE CINFÃES


Os amantes de caminhadas na natureza profunda têm em Cinfães um paraíso escondido à sua espera.

A Câmara Municipal marcou seis pequenos percursos pedestres à volta dos cursos médio e superior do Rio Bestança e de um seu afluente por caminhos antigos com um comprimento total de 52 quilómetros.

Nestas férias fiz quadro dessas rotas acompanhado pela minha sobrinha mais nova. Ficaram para depois a Rota do Vale, de Vila de Muros às Portas do Montemuro (de 18,8 km e com um acumulado de subida de 1273 metros) e o Caminho das Portas (um percurso circular de 5,4 km entre Alhões e as Portas).

Começámos pelo Caminho da Vila, o percurso mais curto que une a Loja de Turismo de Cinfães e o Centro de Interpretação Ambiental do Vale do Bestança, nas Pias. O percurso é linear e tem 2,7 km com um acumulado de subida ou descida de 428 metros. A descida levou cerca de 50 minutos. Depois de uma visita ao Centro de Interpretação e de uma pausa nas águas limpas e retemperantes do Bestança, decidimos fazer o regresso a pé. A subida é íngreme, mas a paisagem é espetacular e vale bem o suor e o esforço. Resgatamos o esforço das gentes ribeirinhas que iam comprar ou vender a Cinfães.

Uma nota sobre o Centro de Interpretação Ambiental do Vale do Bestança que funciona na antiga escola primária das Pias. A iniciativa é interessante: quatro salas apresentam através de vídeos como o ambiente do vale do Bestança muda durante as quatro estações. Um senão: as imagens focam mais a serra que o vale propriamente dito. Noutras salas é possível descobrir algumas das espécies da flora e da fauna caraterísticas do curso do Bestança. A funcionária é muito simpática, mas não está equipada para responder às questões sobre o Bestança já que é dos lados do Paiva. Precisa de algum trabalho de casa,.

O Caminho do Prado foi a segunda aventura. Trata-se de um percurso circular no curso médio do Bestança. Parte de Vila de Muros em direção à Ponte de Covelas com uma subida até ao fundo da aldeia homónima e depois uma longa caminhada até descer ao Prado, subir a Valverde e regressar a Vila de Muros. Cobre 6,7 km, tem um acumulado de subida 236 metros e demora um pouco mais de duas horas e meia.

O caminho está bem marcado – exceto na bifurcação para a Ponte de Covelas – onde a sinalética foi levada por uma derrocada no inverno passado. Quem não está familiarizado com a geografia da área pode perder-se. A Loja do Turismo prometeu resolver o problema.

A caminhada faz-se quase sempre sob frondosa verdura junto ao rio com o murmúrio das águas e o chilrear dos pássaros em música de fundo. Espetacular! Cruzamo-nos com um casal de caminheiros espanhóis. Entre o Prado e Valverde há muita informação sobre a fauna e a flora do rio. Descobrimos o que é o embudo (ou cicuta) e as cenouras selvagens. E vimos muitas borboletas a esvoaçar. Os nomes científicos são interessantes: branquinha, amarelinha, castanhinha… É um percurso maravilho!

A terceira incursão foi no Vale de Aveloso, acompanhados por uma amiga. Outro percurso circular em forma de oito que começa junto à Junta de Freguesia de Tendais, em Quinhão, sobe para Cimo de Vila e Macieira até Aveloso, com uma subida bastante íngreme antes da aldeia serrana. De Aveloso desce para Meridãos ao longo da Ribeira de Covais. Prossegue para o ponto de partida através de uma calçada antiga que passa por baixo de Barrondes. O percurso cobre uma distância de 10,7 km e levou-nos 3h40 a caminhar. É preciso alguma atenção às marcas do caminho porque estão bastante espaçadas. A subida da Ribeira de Covais para Aveloso é muito íngreme e extenuante, mas merece o esforço pela paisagem que revela. As pessoas de Aveloso são muito simpáticas e acolhedoras. O vale da ribeira é um autêntico viveiro de lesmas. O percurso do fundo da descida de Aveloso até Meridãos é bastante plano e muito agradável.

Para fechar fizemos as Encostas da Serra, outro percurso circular de Bustelo até ao Bestança com uma pequena subida na margem esquerda até encontrar o caminho de Alhões para Tendais, nova passagem para a margem direita e depois a subida da Encosta da Cabra, do rio até Alhões. A via ligava as povoações da serra a Cinfães e a Mosteirô, via Tendais, por onde levavam os doentes em padiolas e macas e traziam os produtos que compravam no baixo concelho.

É outro percurso maravilhoso feito no curso superior do Bestança e com vistas deslumbrantes sobre o rio e o vale do Douro. Começa e acaba na eira da Laje, em Bustelo, e cobre uma distância de 8,1 km com um acumulado de subida de 354 metros. Levamos cerca de 2h40 minutos a fazê-lo numa manhã com algum nevoeiro e «chuva-molha-tolos». Os caminhos da margem direita estão limpos. O trilho atravessa florestas de carvalhos (na parte baixa) e soutos de castanheiros (junto a Alhões). Cruzámo-nos com alguns rebanhos de ovelhas e vacas. Um senhor, muito simpático e prestável que estava de férias em Bustelo, ajudou-nos a chegar à eira da Laje e mostrou-nos o «sardão de pedra». Não sou especialista, mas parece um fóssil de um réptil comprido na beira do fundo da eira. O percurso está bem marcado e dá uma volta bastante grande dentro da aldeia de Alhões com passagem pelo seu parque de lazer.

Adorei estas caminhadas (feitas de manhã exceto a de Aveloso que foi feita depois das 17h00 e terminou com o dia a declinar) registadas e homologadas pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal.

Cumprimento a Câmara Municipal pela iniciativa que se insere no programa [RE]DESCOBRIR CINFÃES.

Agradeço à Tininha a excelente companhia que foi nestas imersões no Cinfães profundo.

Agora o desafio é manter os percursos limpos e transitáveis com as sinaléticas visíveis, já que as silvas começam a invadir alguns percursos (sobretudo de Covelas ao Prado) e em partes do caminho de Aveloso.

Os caminhos vencem desníveis acentuados (acumulados de subida) mas fazem-se bem com um par de ténis e um pau. Basta calma e gosto pela natureza.

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