20 de julho de 2015

TESTEMUNHOS DE FÉ


Todos sabemos e está à vista o grande número de turistas que visitam a nossa histórica cidade de Viseu. Mas naquele dia fui testemunha de algo que não esperava que acontecesse diante dos meus olhos e a minha alma alegrou-se particularmente ao colher uma lufada de otimismo e esperança.

Naquela manhã de fins de junho, enquanto desfrutava a linda e inspiradora música de fundo que se ouvia no interior da Sé de Viseu, vi duas senhoras aproximar-se. Pensando certamente que eu fosse o guarda da Sé, uma delas, de véu na cabeça e sandálias na mão, dirigiu-se a mim e, como a querer perguntar qualquer coisa disse, muito respeitosamente: «Desculpe…»

Uma palavra que ficou suspensa no ar talvez à espera da minha reacção. Instantaneamente a minha memória transportou-me ao Egito e Sudão, onde tenho vivido mais de duas dezenas de anos como missionário comboniano, levando-me também, ainda que só imaginariamente, até aos outros países do Médio Oriente. Aí, onde a maioria esmagadora é de religião islâmica, as mulheres andam geralmente de cabeça coberta (e por vezes todo o rosto). Além disso, o tão elevado respeito pelo sagrado, vai até ao ponto de obrigar cada muçulmano, homem ou mulher, a fazer a sua oração oficial de pés descalços.

Procurei tranquilizar a senhora: «Esteja à vontade; você está na casa de Deus, que é também a sua casa.»

A sua companheira apressou-se a querer explicar. Soube então que eram turistas oriundas do Egito, uma católica e a outra muçulmana. Não tardou muito que a nossa conversa passara da língua inglesa à árabe. Souberam então que eu não só não era o guarda de segurança nem tão pouco o cicerone do grande monumento religioso que elas visitavam.

«Mas não se preocupe», gracejou a Khadija que, entretanto, mais confiante, calçava as sandálias. Senti a sua delicadeza ao querer serenar-me pelo facto de eu não poder ser-lhes de ajuda completa na sua visita ao tão importante monumento. A sua amiga mostrou-me o livro-guia turístico da cidade de Viseu enquanto me dizia: aconteceria o mesmo connosco se um dia nos encontrássemos com turistas de visita às Pirâmides do Cairo, no Egito. Somente um perito cicerone ou o livro-guia poderia ser a ajuda de forma rigorosamente desejada, concluiu.

As duas senhoras continuaram o seu giro com calma e tranquilidade no interior da Sé. Para minha surpresa notei que o altar do Santíssimo Sacramento não fora para elas tão-somente um qualquer objecto de curiosidade turística. A minha admiração quedou-se já não tanto pela Mariam que eu via ajoelhada durante longos minutos em frente do referido altar mas, sobretudo, pela sua companheira muçulmana que a imitou em gesto profundo de adoração. Antes de sair quiseram ainda passar por mim, pedindo imensa desculpa por ter disturbado a minha oração. Mas distúrbio não tinha havido, absolutamente; pelo contrário, foi uma ocasião que fez reacender em mim a certeza da realidade que o nosso mundo de hoje, afinal, não está tão perdido e sem religião como se ouve banalmente dizer.

Não me sinto, todavia, de pôr um ponto final e ficar por aqui. Porque a verdade é que este episódio tinha sido somente o primeiro de entre outros naquela manhã em que fora privilegiadamente convidado a louvar a Deus. Turistas que deixavam transparecer uma fé não inferior à de qualquer devoto peregrino.

Foi o caso de um simpático grupo de umas duas dezenas de latino-americanos que febrilmente e com vivacidade se espalharam por toda a catedral, cochichando os seus comentários. A um certo momento, o notório e distinto chefe do grupo, com um simples gesto de autoridade reuniu toda a sua gente à volta do altar do Santíssimo Sacramento. Foi um espaço distinto onde vi muitos deles ajoelhar-se e, durante vários minutos, só se ouviu a música gregoriana que permeava todo e qualquer espaço recôndito da majestosa catedral.

Tinha passado meia hora sem que eu notasse a presença de mais alguém no interior do templo. Mas naquele momento tocou um telemóvel, destoando e ofendendo a beleza musical que seduzia o ouvido e o coração. Um homem levanta-se e atende em voz baixa o telefone, ao mesmo tempo que caminha a passos largos para a porta de saída. Minutos mais tarde, o fulano entra novamente e ajoelha-se no mesmo banco de antes. E ali ficou, imóvel.

Já estava a ser meio-dia. O guarda de segurança apareceu discretamente. «Desculpem, é hora de fechar», disse, com delicadeza.

Dirigi-me para a porta. O senhor do telemóvel destoante adiantou-se, esperando-me à saída. E, num português espanholado, falou: «Peço imensa desculpa.»

Sorri para ele. Depois de uma breve pausa, ele disse ainda com humildade: «Por el ruído del telefono.»

Já não há religião? Este mundo de hoje está perdido? Os testemunhos que acima referi não são histórias inventadas. Tenho-os como sinais enviados por Deus a sugerir-nos que há que colher e cultivar na nossa vida um certo optimismo e esperança. O mundo não está perdido. Não queiramos nós fazê-lo perder.

P. Feliz da Costa Martins

Missionário comboniano no Darfur, em férias em Viseu!

10 de julho de 2015

SINAIS


As freiras voltaram às páginas dos media ingleses. Não, não descobriram mais um escândalo desenterrado da poeira acumulada dos conventos vazios. A razão é outra: o número de jovens britânicas que entraram para a vida consagrada aumentou seis vezes numa década.

Surpreendeu-me um tweet do The Guardian, um diário laico de esquerda, a pedir estórias e fotos de freiras e monjas.

Encontrei a resposta para tal curiosidade numa notícia no The Independent: 45 mulheres entraram para a vida religiosa em 2014: 18 para conventos de clausura e 27 para congregações de vida ativa. O título é sugestivo: Descontentamento com vida moderna provoca pico em número de mulheres a entrar para conventos.

Razões? A Ir. Cathy Jones, promotora nacional de vocações para a vida religiosa no Secretariado Nacional das Vocações, disse ao diário londrino que o aumento vem «do crescimento de uma cultura das vocações na Igreja» através de fins-de-semana vocacionais mais atrativos e da presença dos religiosos em festivais da juventude.

O P. Christopher Jamison, diretor no Secretariado Nacional das Vocações da Conferência Episcopal de Inglaterra e Gales, diz que «há um vazio no mercado para o sentido na nossa cultura e uma das maneiras em que as mulheres podem encontrar aquele sentido é através da vida religiosa.»

O jornalista Pablo J. Ginés faz uma análise interessante deste surto de interesse pela vida consagrada em terras de sua majestade através de um artigo publicado no blogue Religión en libertad.

Nota que, em 2004, na Grã-Bretanha, sete mulheres entraram para a vida religiosa; em 2014 foram 45 mais uma dúzia de rapazes.

Aponta cinco razões para o fenómeno: as congregações voltaram às raízes e têm uma identidade mais clara; melhoraram o processo de acolhimento convidando sem pressionar e discernindo sem recrutar; organizam retiros, encontros e programas vocacionais em conjunto que motivam os jovens a empenhar-se por um mundo melhor, promovendo o discernimento e voluntariado; usam mais a internet e as redes sociais com páginas mais atrativas e de qualidade gráfica para oferecer experiências de ir e ver sem compromisso; a conferência episcopal preparou equipas de guias vocacionais, formadas por religiosos e leigos, através do Secretariado Nacional das Vocações, para convidar e acompanhar os jovens no discernimento vocacional.

Em Portugal também há alguns sinais interessantes. A CIRP encomendou à IPSOS-APEME uma Gramática da proximidade para a vida consagrada inserida no Barómetro da Vida Consagrada, uma das iniciativas para o Ano da Vida Consagrada.

O Dr. Carlos Liz, que dirige o estudo, apresentou os resultados das investigações do primeiro trimestre durante a Assembleia da CIRP em Abril em Fátima.

71% dos jovens dos 18 aos 34 anos considera-se «bastante ou relativamente interessado» pelo tema espiritualidade e religião, 50% afirma-se católico e 20% diz ser a-religioso. Os jovens vivem a sua espiritualidade visitando locais de culto quando viajam (75%) e através de filmes, séries e livros (70%). Só 30% dizem participar em cultos organizados.

Os jovens associam a expressão vida consagrada a votos e vida eclesial (29%) e a conceitos como vida realizada com felicidade e equilíbrio interior (16%) ligada a Deus e ao sagrado (12%).

O Dr. Liz disse aos superiores maiores que os religiosos não devem ter medo de propor os votos/consagração aos jovens porque o conceito tem «sex appeal».

Em tempos de vocações magras, estes são sinais que nos fazem viver o presente com dedicação, confiança e esperança.

O papa Francisco convida-nos a aprender a linguagem dos jovens e a encontrámo-los onde estão (Evangelii Gaudium 105). Este é o efeito-Francisco: para surfar a onde de simpatia global que o papa argentino está a gerar temos que sair de nós mesmos, das nossas «torres-de-marfim» e das nossas zonas de conforto, pegar na prancha da fé e fazer-nos ao mar-alto da juventude com alegria!

O papa é claro e provocante: «Para ser evangelizadores com espírito é preciso também desenvolver o prazer espiritual de estar próximo da vida das pessoas, até chegar a descobrir que isto se torna fonte duma alegria superior. A missão é uma paixão por Jesus, e simultaneamente uma paixão pelo seu povo» (Evagelii Gaudium 268).

Este é o caminho para a pastoral vocacional: ir ao encontro dos jovens onde estão através da linguagem que entendem – que é a linguagem deles. São nativos do digital: vivem e comunicam através das redes móveis e internet. Por isso, a net e sobretudo as redes sociais são espaços onde devemos estar cada vez mais presentes com qualidade.

Reitero a proposta do secretariado das vocações de usar as seis paróquias que servimos como uma plataforma para a pastoral vocacional juvenil. As equipas JIM querem colaborar nesse processo de cultura vocacional comboniana e é urgente usar as sinergias que geram!

Depois, cada comunidade comboniana devia ser um espaço «vinde ver», convidativo e aberto, que chama por atração, convidando os jovens a entrarem e estarem connosco num exercício de hospitalidade vocacional desinteressada.

A espiritualidade do Coração trespassado do Bom Pastor (João 19, 34) pode servir também de ícone para uma comunidade «vinde ver»: uma comunidade trespassada, aberta, em saída, um coração escancarado, uma torrente de «sangue e água» para a vida plena de todos (João 10, 10), um coração que sangra e sofre com os corações trespassados de hoje; um coração que alivia os fatigados e oprimidos (Mt 11, 28-30), que acolhe os que andam à procura de sentido para as suas vidas, uma irmandade de corações que entusiasmam e fascinam (Cfr. Evagelii Gaudium 106).

7 de julho de 2015

PROPOSTA DE DESCANSO E AVENTURA



A África atrai desde tempos imemoriais viajantes e aventureiros e oferece roteiros de férias tão diferentes quanto os seus 54 países.

Heródoto, o pai da História (nasceu onde é hoje a Turquia em 485 a. C. e morreu em 425 a. C.), fez ao Egipto a sua primeira viagem e também passou pela Líbia. O continente africano tem 120 sítios património da humanidade, dos quais 35 são naturais, 80 culturais e cinco de ambas as naturezas. Apesar das tragédias, continua de braços abertos para quem o quiser visitar.

A África está encaixada em quatro mares tão diferentes como os seus nomes: Mediterrâneo, Atlântico, Índico e Vermelho, salpicados de inúmeras ilhas exóticas e destinos românticos. O turista pode trabalhar para o bronze em extensas praias de águas mansas (Tanzânia, Quénia, Moçambique, Gâmbia, Gana...), visitar ruínas históricas nas horas quentes (Tunísia e Líbia), mergulhar com mais de 1000 espécies de peixes e 300 de corais (golfo de Aqaba, Egipto) ou com tubarões (África do Sul).

Para os amantes da Natureza, a oferta inclui as cataratas de Vitória, uma cortina majestosa de água com 1,7 quilómetros de comprimento e 108 metros de altura que liga a Zâmbia e o Zimbabué; os safaris onde os cinco grandes (leão, leopardo, rinoceronte, elefante e búfalo) convivem (Quénia, Tanzânia, África do Sul e Botsuana); a observação de gorilas nos montes Virunga, entre a República Democrática do Congo, Ruanda e Uganda; viagens de balão sobre a planície de Serengeti (partilhada pela Tanzânia e Quénia) para seguir as migrações dos gnus; imersões étnicas no Vale do Omo, na Etiópia, lar para umas 50 tribos com formas de vida primordiais.

De entre os lugares históricos, destacam-se as pirâmides de Gizé (Egipto) e a vizinha Esfinge com mais de 5000 anos. Mas também há pirâmides mais pequenas e templos antigos em Méroe, no Sudão. A cidade de Djenné, no Mali, começou a ser habitada há 2265 anos e tem uma mesquita medieval impressionante. As grandes ruínas do Zimbabué, com mais de 1000 anos, afirmam a grandeza da civilização banta.

A Etiópia oferece quatro destinos património da humanidade: Axum (ruínas do palácio imperial, estelas e túmulos do século VI), Harar (a quarta cidade santa do Islão, construída no século XIII), as 11 igrejas de Lalibela (talhadas na rocha no mesmo século) e os Castelos de Gondar (construções indo-portuguesas dos séculos XVI e XVII).

O Forte de Jesus (construído no século XVI em Mombaça, Quénia), a Ilha de Moçambique (do mesmo século) e a cidade velha de Ribeira Grande (do século XVIII em Cabo Verde) são alguns dos marcos deixados pelos Portugueses no continente africano com o forte de Elmina (construído em 1482 no Gana), a cidade de Mazagão (em Marrocos) e duas pontes na Etiópia.

Os amantes da montanha também têm muitos percursos e escaladas possíveis desde a cordilheira dos Atlas (4167 metros) aos montes Simien na Etiópia (4450 metros), Kilimanjaro, na Tanzânia (o tecto de África, com 5896 metros), monte Quénia (5199 metros), Rwenzori ou monte da Lua no Uganda (5109 metros) e Drakensberg ou monte do Dragão, na África do Sul (3482 metros).

Os mercados são destinos exóticos pela combinação de cores, aromas e artesanato. Os bazares de Fez e Marraquexe (em Marrocos), do bairro do Cairo islâmico (no Egipto), Merkato de Adis-Abeba (na Etiópia, o maior mercado africano ao ar livre) e o mercado de Zanzibar (Tanzânia) são referências cimeiras.

Os amantes de férias radicais podem tentar a mítica ligação Cairo-Cabo em duas e quatro rodas, saltar com cordas de 111 metros da ponte das Cataratas de Vitória (bangee) ou fazer a caravana do sal de Tombuctu a Toudenni, no deserto do Mali, em 40 dias de camelo. Muitos rios africanos têm trechos de sonho para a prática de canoagem e rafting para os viciados em adrenalina.

Aqui ficam alguns indicadores para umas férias diferentes num continente que tem o lindo costume de se exceder na arte da hospitalidade.

2 de julho de 2015

LOUVADO SEJAS


Laudo si’, Louvado sejas, a segunda carta encíclica do Papa Francisco, é um documento inovador e cheio de surpresas sobre o cuidado que a casa comum requer.

O seu coração palpita no nº 139: «Quando falamos de “meio ambiente”, fazemos referência também a uma particular relação: a relação entre a natureza e a sociedade que a habita. Isto impede-nos de considerar a natureza como algo separado de nós ou como uma mera moldura da nossa vida. Estamos incluídos nela, somos parte dela e compenetramo-nos. [...] É fundamental buscar soluções integrais que considerem as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais. Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise sócio-ambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza.»

Esta é a primeira novidade a sublinhar: Francisco propõe uma «ecologia integral» que inclua o meio ambiente e as pessoas, sobretudo os mais pobres: a pobreza e a degradação ambiental andam de mãos dadas e não se pode resolver uma se solucionar a outra.

Mas o Papa argentino brinda-nos com muitas mais surpresas.

Normalmente, os documentos papais têm um título em latim formado pelas duas ou três palavras de abertura. Louvado sejas tem um título em italiano: Laudato si’, do Cântico das Criaturas de Francisco de Assis a quem foi buscar o nome e a inspiração.

Os documentos papais são habitualmente endereçados aos bispos, aos padres, aos consagrados e aos fiéis. Às vezes os homens de boa vontade também são incluídos entre os destinatários. Louvado sejas não é dedicado a ninguém em particular, é uma encíclica católica no seu sentido mais extenso: é para todas as pessoas que habitam a casa comum.

Mas há mais! As notas de fim de página quer pela posição quer pelo corpo da letra – normalmente mais pequena que o do texto – passam facilmente despercebidas. As 172 notas que pontuam a Louvado sejas revelam uma encíclica ecuménica e colegial.

Francisco integra no «magistério social da Igreja» (nº 15) os ensinamentos do Patriarca Ecuménico Bartolomeu, de 19 conferências episcopais continentais, nacionais (incluindo a portuguesa na nota 124) e regionais; faz uma chamada para Ali al Khawwas (nota 159), um pensador muçulmano, e cita dois documentos seculares: Declaração do Rio (1992) e Carta da Terra (2000).

O grosso das citações, contudo, vem do magistério do Santo Padre João Paulo II (39), de Bento XVI (28), do próprio Papa Francisco (18) que remete frequentemente  para a exortação Evangelii Gaudium, A alegria do Evangelho, o documento programático do seu pontificado.

São Basílio Magno, São Justino, São João XXIII, Beato Paulo VI, São Tomás de Aquino, São Boaventura, São João da Cruz, Dante (o génio da literatura italiana), Tomás de Celano, historiógrafo de Francisco de Assis, o pensador francês Paul Ricoeur e o teólogo católico Romano Guardini também são fontes de inspiração para o Papa argentino.

Cita alguns documentos do Concílio Vaticano II, do Pontifício Conselho Justiça e Paz, o Catecismo da Igreja Católica e o Documento de Aparecida.

Ao contrário dos seus antecessores, Francisco não se cita continuamente, mas dialoga com todas as avenidas do pensamento humano, religiosas e seculares, na procura de alternativa à cultura do consumismo e do descarte.

A própria apresentação da encíclica aos jornalistas, a 18 de junho, trilhou terrenos novos. O cardeal ganês Peter Turkson fez a apresentação geral do documento, seguido pelas intervenções de um leigo e duas leigas que apresentaram as respetivas leituras da Louvado sejas a partir das suas perspetivas profissionais.

Pena foi que alguns cardeais e bispos das cadeiras da frente se tivessem ido embora quando a primeira mulher começou a apresentar a sua reflexão.

A estrutura da encíclica segue o modelo do ver, julgar e agir, um sistema analítico que a América Latina ofertou ao mundo.

Os capítulos I e II fazem o ponto da situação ecológica vis-à-vis com a proposta bíblica; os capítulos III e IV denunciam a raiz humana da crise ecológica e propõem uma ecologia integral; e os capítulos V e VI apresentam linhas de orientação e ação, e uma educação e espiritualidade ecológicas.

O Papa avalia a questão ecológica integrando diversas perspetivas do saber, e faz propostas muito concretas para uma ecologia integral que conjugue os fatores ambientais, económicos e sociais através do repensar dos modelos de desenvolvimento, produção e consumo no cuidar da casa comum de que todos somos condóminos.

Propõe o uso de transportes públicos (nº 153), grandes «percursos de diálogo» que nos tirem da espiral de destruição (nº 163), substituição dos combustíveis fósseis (nº 165), uma nova gestão internacional dos oceanos (nº 175), uma baixa de consumo dos países ricos (nº 193), conversão de modelos de desenvolvimento global (nº 196), diálogo inter-religioso para enfrentar a crise ecológica (nº 201).

Aponta ainda uma cidadania ecológica através da educação para um estilo de vida sustentável.

«A educação na responsabilidade ambiental pode incentivar vários comportamentos que têm incidência direta e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias…» escreve no nº 211.

Já perto do fim, o papa argentino faz uma ligação profunda entre a paz interior e atitude ecológica, muito próxima do conceito bíblico de shalom, paz, harmonia : «A paz interior das pessoas tem muito a ver com o cuidado da ecologia e com o bem comum, porque, autenticamente vivida, reflete-se num equilibrado estilo de vida aliado com a capacidade de admiração que leva à profundidade da vida. A natureza está cheia de palavras de amor», anota no nº 225.

Francisco pede uma atitude de coração atenta e plenamente presente como caminho para uma ecologia integral.

 «Jesus ensinou-nos esta atitude, quando nos convidava a olhar os lírios do campo e as aves do céu, ou quando, na presença dum homem inquieto, «fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele» (Mc 10, 21). De certeza que Ele estava plenamente presente diante de cada ser humano e de cada criatura, mostrando-nos assim um caminho para superar a ansiedade doentia que nos torna superficiais, agressivos e consumistas desenfreados» (nº 226).

Boa leitura da Louvado sejas!

1 de julho de 2015

FASE 1 CUMPRIDA


A Comissão Pré-capitular concluiu a primeira fase dos trabalhos para preparar o XVIII Capítulo Geral dos Missionários Combonianos que vai decorrer de 6 de setembro a 4 de outubro na Casa Generalícia em Roma.

A reunião magna do Instituto vai congregar 67 capitulares e 10 observadores que vão rever o último sexénio, preparar o programa para os próximos seis anos e escolher um Conselho Geral que o execute.

«Discípulos Missionários Combonianos chamados a viver a alegria do Evangelho no mundo de hoje» é o tema inspirativo.

Os oito membros da Comissão reviram os Estatutos do Capítulo e prepararam o documento de trabalho  intitulado Síntese Temática para o Discernimento.

Para tal leram as relações da Direção Geral, dos continentes e das circunscrições mais os contributos enviados por confrades individualmente e por grupos.

Tentaram valorizar ao máximo os materiais enviados e de facilitar o processo capitular que vai continuar reunindo todos os capitulares a partir de 31 de agosto.

Durante os últimos dez dias, a comissão terminou a Síntese Temática para o Discernimento, ajustou a proposta de programa do Capítulo e traduziu os diversos materiais em inglês e espanhol, que, com o italiano, são as línguas oficiais do Capítulo.

O programa da Semana de Preparação para o Capítulo, que decorre de 31 de agosto a 4 de setembro, também está pronto.

Tem três vertentes: um dia para a apresentação dos capitulares e delegados; dois dias com Dom Marcello Semeraro – bispo de Albano e secretário do Grupo de Cardeais Consultores do Papa – que vai fazer duas reflexões e um retiro sobre A Alegria do Evangelho, e dois dias para um primeiro contacto com a proposta de andamento do Capítulo, Estatutos e Síntese Temática para o Discernimento.

A Comissão também concelebrou com o Papa Francisco a missa do Corpo e Sangue de Cristo na esplanada da Basília de São João de Laterão e fez uma manhã de retiro para rezar a proposta de documento de trabalho.

Os oito elementos da comissão voltam a Roma a 23 de agosto para ultimar os preparativos e receber os capitulares.