15 de novembro de 2014

POLÍCIA MEXICANA ENCONTRA CORPO DE PADRE UGANDÊS


A polícia mexicana encontrou os restos mortais de um missionário ugandês desaparecido há mais de seis meses em Guerrero, no sudoeste do país.

Os restos mortais do padre John Ssenyondo foram encontrados numa vala comum com mais uma dúzia de corpos.

O padre foi identificado pelo registo dentário, disse o P. Victor Aguilar, vigário-geral da diocese de Chilpancingo-Chilapa, no estado de Guerrero.

O P. Ssenyondo foi sequestrado por desconhecidos a 30 de Abril depois de celebrar a missa em Santa Cruz, numa comunidade indígena que paroquiava há três anos.

O P. Aguilar disse que desconhecia o motivo do sequestro.

«A violência no estado é generalizada», explicou.


Fonte anónima disse que o pároco tinha recusado o baptismo ao filho de um casal em união de facto que fazia parte do crime organizado.

A casa do sacerdote ugandês tinha sido assaltada antes e noutra ocasião levaram-lhe o veículo e os haveres pessoais.

O P. Ssenyondo trabalhava no México há cinco anos.

Tinha 55 anos.

Tinha deixado a congregação dos Missionários Combonianos e planeara juntar-se oficialmente ao clero da diocese de Chilpancingo-Chilapa em Junho passado.

O corpo foi encontrado numa vala comum em Ocotlán, a 2 de novembro, enquanto a polícia procurava os restos mortais de 43 estudantes que desapareceram a 26 de Setembro.

O Provincial comboniano do Uganda Sylvester Hategetk’Imana disse que a família do P. Ssenyondo está ansiosa: quer saber o que as autoridades vão fazer com os restos mortais do familiar assassinado.

13 de novembro de 2014

ABRAÇO DE DEUS

© JVieira

«CHAMADOS A LEVAR A TODOS O ABRAÇO DE DEUS»

Nota Pastoral da CEP sobre o Ano da Vida Consagrada

1. Anúncio feliz do Ano da Vida Consagrada

No final de um encontro com os Superiores Gerais dos Institutos Religiosos no dia 29 de novembro de 2013 em Roma, o Papa Francisco anunciou que o ano de 2015 seria dedicado à Vida Consagrada. Esta proposta para toda a Igreja insere-se também no contexto da celebração dos 50 anos do Concílio Vaticano II, designadamente por ocasião do cinquentenário do Decreto «Perfectae Caritatis» sobre a conveniente renovação da Vida Religiosa.

Dois meses mais tarde, a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (CIVCSVA), traçou os principais objetivos e algumas iniciativas já previstas para celebrarmos com qualidade o Ano da Vida Consagrada.

«Fazer memória agradecida do passado» é o primeiro objetivo desta celebração. Os 50 anos que separam do Concílio são momento de graça para a Vida Consagrada, que percorreu um caminho de renovação guiada pelo Espírito, vivendo as suas fraquezas e infidelidades como experiência da misericórdia e do amor de Deus.

O segundo objetivo é «abraçar o futuro com esperança». As crises atuais e as incertezas no amanhã devem ser assumidas como desafio e ocasião favorável para os consagrados crescerem em profundidade como homens e mulheres de esperança.

Esta esperança impele-nos a «viver o presente com paixão», terceira finalidade a ter em conta na preparação e celebração deste Ano: uma paixão de enamoramento, de verdadeira amizade, de comunhão; uma paixão por evangelizar a própria vocação e testemunhar a beleza do seguimento de Cristo; uma paixão para despertar o mundo com testemunho profético, em presenças significantes nas periferias geográficas e existenciais da pobreza.

O Ano da Vida Consagrada coincide, em grande parte, com as celebrações do 5.º Centenário do nascimento de Santa Teresa de Jesus, nascida em Ávila a 28 de março de 1515. Figura de grande mulher e de consagrada a Cristo na vida contemplativa, para todos é modelo de progredir na intimidade com Deus pelo exercício perseverante de oração, alcançando assim qualidade apostólica a sua intensa atividade de reformadora da vida carmelita e de toda a Igreja.


2. Vida Consagrada no coração da Igreja

Com esta Nota Pastoral, não pretendemos fazer aqui uma reflexão teológica sobre a Vida Consagrada no mistério e na comunhão da Igreja, mas apenas comungar desta proposta pastoral que o Papa Francisco lançou para toda a Igreja universal e para as Igrejas locais. No mesmo sentido da exortação apostólica Vita Consecrata de João Paulo II, cheios de gratidão damos graças ao Espírito pela abundância de formas de vida consagrada.

A designação «Vida Consagrada» refere-se a um comum horizonte eclesial em que se articulam, de forma complementar, carismas e instituições: ordens e institutos religiosos dedicados à contemplação ou às obras de apostolado; sociedades de vida apostólica; institutos seculares e outros grupos de consagrados; formas novas ou renovadas de vida consagrada; a Ordem das Virgens, as viúvas e os eremitas consagrados; todos aqueles que, no segredo do seu coração, se entregam a Deus com uma especial consagração (cf. Vita Consecreta, 2).

A Vida Consagrada está colocada mesmo no coração da Igreja, como elemento decisivo para a missão, visto que exprime a íntima natureza da vocação cristã. E continua a ser um dom precioso e necessário também no presente e para o futuro do povo de Deus, porque pertence intimamente à sua vida, santidade e missão. Os consagrados são chamados a assumir, na radicalidade do seu ser, a mesma exigência que é feita a todos os discípulos de Cristo, no horizonte das bem-aventuranças: «Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5,48).

Muitas iniciativas concretas de carácter universal foram já anunciadas. O Papa Francisco presidirá à abertura das celebrações em 30 novembro deste ano, primeiro domingo do Advento, e haverá uma assembleia plenária da CIVCSVA sobre a novidade na Vida Consagrada a partir do Vaticano II. Estão previstos diversos encontros internacionais em Roma para noviços, jovens religiosos e religiosas, formadores e formadoras, superiores e ecónomos gerais e provinciais. Haverá ainda um congresso internacional de teologia da vida consagrada e uma amostra internacional sobre a vida consagrada como evangelho na história humana. Há várias sugestões para as irmãs contemplativas, entre elas uma «cadeia mundial de oração entre os mosteiros». Alguns documentos sobre diversas áreas específicas estão igualmente em preparação e em reelaboração, como a Instrução «Mutuae relationes», que dá critérios diretivos para as relações mútuas entre os Bispos e os Religiosos na Igreja. E quase a concluir as celebrações do Ano da Vida Consagrada, não faltará uma solene concelebração presidida pelo Papa, em finais de 2015, nos 50 anos do Decreto «Perfetae caritatis».


3. Um ano de bênção e de graça


Na nossa missão de Pastores, queremos cuidar com particular estima daqueles e daquelas que seguem Jesus Cristo nesta forma radical de existência cristã que é a vocação à Vida Consagrada. A partir dos nossos organismos diocesanos mais especificamente ocupados com as formas de Vida Consagrada e em coordenação com a Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP) e com a Conferência Nacional dos Institutos Seculares de Portugal (CNISP), desejamos que este Ano seja verdadeiramente um ano de graça, tendo sempre na mente e no coração os três objetivos atrás delineados para toda a Igreja: fazer memória agradecida do passado, abraçar o futuro com esperança, viver o presente com paixão.

Olhando a nossa realidade em Portugal, destacamos algumas ações que já são comuns: a Semana do Consagrado, instituída pela Conferência Episcopal, que principia a 26 de janeiro e encerra com a Festa da Apresentação do Senhor e o Dia do Consagrado a 2 de fevereiro, em que procuramos estar presentes como Pastores das Igrejas locais; o Dia Mundial de Oração pela Vida Consagrada Contemplativa. Procuraremos refletir e atualizar para a Igreja em Portugal as orientações contidas na Instrução «Mutuae relationes». Acompanhamos ainda com atenção as iniciativas conjuntas promovidas pelos organismos coordenadores da Vida Consagrada em Portugal, particularmente a CIRP e a CNISP, como as semanas de estudo sobre a Vida Consagrada, as suas assembleias gerais, as atividades fomentadas pelas suas comissões nacionais e secretariados regionais, as muitas planificações em cada instituto e dalguns em comum.


4. Celebrar a Vida Consagrada na comunhão da Igreja

Neste conjunto de celebrações, queremos avivar o Dia do Consagrado, instituído universalmente em 1997 por São João Paulo II, para “ajudar toda a Igreja a valorizar sempre mais o testemunho das pessoas que escolheram seguir a Cristo mais de perto, mediante a prática dos conselhos evangélicos e, ao mesmo tempo, ser para as pessoas consagradas uma ocasião propícia para renovar os propósitos e reavivar os sentimentos, que devem inspirar a sua doação ao Senhor”. Os três objetivos, então por ele apontados para viver este dia, podem sintonizar com o que se pretende ao longo deste especial ano de graça: responder à íntima necessidade de louvar mais solenemente o Senhor e agradecer-Lhe o grande dom da Vida Consagrada, que enriquece e alegra a comunidade cristã com a multiplicidade dos seus carismas e com os frutos de edificação de tantas existências, totalmente doadas à causa do Reino; promover o conhecimento e a estima pela Vida Consagrada, por parte de todo o povo de Deus, fazendo com que a doutrina sobre ela seja mais largamente e mais profundamente meditada e assimilada por todos os membros do povo de Deus; convidar as pessoas consagradas a celebrar em conjunto e solenemente as maravilhas que o Senhor realizou nelas, para descobrir a beleza e a diversidade dos dons difundidos pelo Espírito no seu género de vida, e tomar consciência mais viva da sua insubstituível missão na Igreja e no mundo.


5. A alegria do Evangelho no coração da Vida Consagrada

Todas as celebrações ao longo deste ano apontarão para a vocação e a missão que a Vida Consagrada, de modo permanente nas suas variadas formas, é chamada a ser e realizar, ao espelhar o modo de vida de Jesus Cristo, hoje, e empenhar-se, já, na construção do Reino dos céus. No dizer do Papa Francisco no referido encontro com os Superiores Gerais, os consagrados e consagradas são desafiados a estar e a marcar presença em variadas situações para despertar o mundo: «A Igreja deve ser atrativa. Despertar o mundo! Sede testemunho de um modo diferente de fazer, de agir, de viver! É possível viver de um modo diferente neste mundo. Estamos a falar de uma visão escatológica, dos valores do Reino encarnados aqui, nesta terra. Trata-se de deixar tudo para seguir o Senhor. Não, não quero dizer radical. A radicalidade evangélica não é somente dos religiosos: pede-se a todos. Mas os religiosos seguem o Senhor de maneira especial, de modo profético. Espero de vós este testemunho. Os religiosos devem ser homens e mulheres capazes de despertar o mundo».

A vida de consagração em castidade, pobreza e obediência, seguindo de perto o estilo de vida de Jesus Cristo, é um tesouro para a vida e missão da Igreja. Fazemos nossas estas palavras do Concílio Vaticano II: «o sagrado Concílio confirma e louva os homens e mulheres, Irmãos e Irmãs que nos mosteiros, escolas, hospitais ou missões, embelezam a Igreja com a sua perseverante e humilde fidelidade na mencionada consagração e prestam generosamente às pessoas os mais variados serviços» (Lumen gentium, n. 46).

Desejamos que todas as iniciativas deste Ano da Vida Consagrada sejam assumidas com interioridade na santidade, com coerência na vida comunitária, com testemunho na missão. O encanto, a alegria e o entusiasmo no seguimento de Cristo, assumidos por todos os consagrados e consagradas na sua existência como discípulos missionários e por todas as formas de vida consagrada, constituirão certamente fermento e atração de novas vocações à Vida Consagrada. Acolhendo os reiterados apelos do Papa Francisco para serem «chamados e levar a todos o abraço de Deus» e «transformados na alegria do Evangelho», os consagrados poderão contribuir de modo especial para despertar o mundo ou os mundos por eles habitados.

Confiamos à Virgem Maria a renovação espiritual e apostólica das pessoas consagradas e dos institutos de Vida Consagrada para testemunharem Jesus Cristo com uma existência transfigurada.

Fátima, 13 de novembro de 2014

Conferência Episcopal Portuguesa

4 de novembro de 2014

CIMETERIUM NOSTRUM


Os Romanos chamavam mare nostrum – o nosso mar – ao Mediterrâneo. A bacia mediterrânica tornou-se o cimeterium nostrum – o nosso cemitério – para milhares de africanos e médio-orientais que morreram na rota do sonho europeu.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) publicou em finais de Setembro o relatório «Viagens fatais – Rastreando vidas perdidas durante as migrações». 

O documento revela que entre Janeiro e Setembro deste ano 3072 pessoas morreram no Mediterrâneo, quase cinco vezes mais que em 2013. Vinham das costas da Líbia, Egipto e Argélia, em embarcações sobrelotadas e inadequadas. Mais de 40 por cento eram africanos subsarianos e do Corno de África (Somália, Etiópia, Jibuti e Eritreia). Outros 30 por cento eram do Médio Oriente, sobretudo da Síria, e do Norte de África.

The Migrantes Files documentou que, nos últimos catorze anos, mais de 22 mil pessoas encontraram a morte ao tentar chegar ilegalmente à Europa através dos desertos e do mar.

Entre Janeiro e Agosto, a Itália contabilizou 112 mil imigrantes que chegaram às suas fronteiras sem papéis, quase três vezes mais do que em 2013. Fogem da pobreza, de guerras, de regimes repressivos, de perseguições políticas e religiosas.

Vêm da República Democrática do Congo, Camarões, Guiné, Serra Leoa, Libéria, Senegal, Mali, Níger, Tunísia, Chade, Sudão, Etiópia, Eritreia, Somália ou Líbia. O coronel Kadhafi acolheu 2,5 milhões de trabalhadores subsarianos para fomentar o seu pan-africanismo. Depois da sua morte, em 2011, viram-se malqueridos pelas milícias que ocuparam o vazio político. Muitos decidiram tentar a sorte no eldorado europeu, outros regressaram às suas terras.

Isaias Afewerki transformou a Eritreia num campo de concentração e dois a cinco mil eritreus saem por mês, a salto, do país. São na maioria jovens desertores para escapar aos trabalhos forçados do serviço militar. Tornam-se presa fácil para bandos armados que os «caçam» no Leste sudanês e no Sinai para exigir resgates na ordem dos 17 mil euros. Entre 2009 e 2013, 25 a 30 mil eritreus foram sequestrados e um terço morreu em cativeiro porque as famílias não tinham meios para pagar a remição. O «negócio macabro», que inclui tráfico de órgãos, gera 460 milhões de euros por ano.

O Papa Francisco, quando visitou Lampedusa, em Julho do ano passado, para «chorar os mortos» do Mediterrâneo, denunciou «a globalização da indiferença» que faz perder o sentido da responsabilidade fraterna. «Estamos habituados ao sofrimento dos outros», disse, enquanto pediu perdão pela indiferença dos corações anestesiados a viver «na bolha de sabão do bem-estar».

Paradoxalmente, somos um continente que ganhou forma através de migrações sucessivas, mas desconsideramos a imigração. Descendemos dos Lusitanos, que vieram do cruzamento de povos locais com iberos do Norte de África e de celtas da Europa Central. Também temos sangue romano, suevo, visigodo, magrebino. Somos um povo e um continente de emigrantes que buscaram – e buscam – uma vida melhor noutras paragens, mas não queremos os de fora.

A IOM diz que as missões de busca e salvamento que as marinhas de guerra levam a cabo no Mediterrâneo para impedir mais tragédias não chegam. É preciso mudar a legislação sobre a imigração legal, criar corredores seguros para refugiados, aumentar quotas de asilo e levar à justiça os traficantes que fazem milhões à custa da esperança de quem sonha com uma vida melhor. E a ajudar a criar condições económicas sustentadas que fixem as pessoas.

«Tende a coragem de acolher aqueles que procuram uma vida melhor», apelou o Papa Francisco para os habitantes de Lampedusa. E também à Europa! Até porque com o índice de natalidade que temos, vão ter de ser os imigrantes a garantir as nossas reformas.