30 de abril de 2014

«MADE IN ETHIOPIA»


A Etiópia é o novo paraíso das multinacionais que tiram partido da mão-de-obra barata e da abundância de recursos naturais, terras e potenciais consumidores.

A Etiópia passou por profundas transformações estruturais nas últimas décadas e começa a ver os frutos. O Governo refez a rede viária, expandiu o alcatrão, está a construir duas grandes barragens e promoveu a construção de zonas industriais através de um Plano de Crescimento e Transformação com capitais e tecnologia chineses. A economia cresceu 9,3 por cento durante os últimos quatro anos e este ano deve rondar os 8 por cento.

Os novos polos industriais estão a atrair multinacionais inebriadas com a mão-de-obra e recursos naturais baratos e abundantes – o país conta com mais de 80 milhões de habitantes, o segundo mais populoso da África depois da Nigéria.

Gao Hucheng, ministro do Comércio chinês, deu voz, em Dezembro, durante a primeira Expo África-China de Produtos, Tecnologia e Serviços, em Adis-Abeba, a esse apetite: «Escolhemos a Etiópia como destino desta exposição porque pensamos que a Etiópia é um lugar para onde muitas indústrias chinesas gostariam de se relocalizar.»

A indústria de calçado foi a primeira a mudar-se da China para a Etiópia, onde os salários custam um quinto dos preços pagos em casa. Huajian, uma das maiores companhias de calçado de marca da China, está em Adis-Abeba desde 2012 e produz 7 mil pares de sapatos por dia, no valor de cerca de 1 milhão de euros por mês, para a União Europeia e os Estados Unidos!

Além das peles, a Etiópia produz algodão, lã e outros produtos de qualidade e a indústria têxtil internacional está a alimentar-se gulosamente disso. Companhias da Turquia, Paquistão, Coreia do Sul e Índia já se mudaram ou estão a mudar-se para o país. As cadeias de supermercados Tesco (Inglaterra) e Walmart (EUA) já têm a etiqueta «Made in Ethiopia» na roupa que vendem e a sueca H&M quer produzir ali um milhão de peças por mês. A marca inglesa de luvas Pittards já faz cerca de 50 milhões de euros por ano com luvas e peles nas suas fábricas etíopes. O Governo espera facturar mil milhões de euros com a exportação de roupa em 2016.

O Banco Mundial diz que indústrias do metal, madeiras e agro também são viáveis. A Unilever, o segundo maior fabricante do mundo de produtos de consumo, está a abrir em Adis-Abeba uma fábrica para produzir sabões e alimentos depois de 2015 para o mercado nacional, Somália e Sudão do Sul. Um fabricante chinês de automóveis está a produzir 3 mil veículos por ano numa das zonas industriais etíopes.

A relocalização da produção multinacional para a Etiópia tem os seus espinhos. O país continua entre os 20 mais pobres do mundo, com mais de um terço da população a viver abaixo da linha internacional de pobreza.

Para atrair investidores para o sector agrícola – da Índia à Arábia Saudita –, o Governo precisa de deslocar à força 1,5 milhões de pessoas nas áreas de Gambella, rica em café e petróleo, Afar e Somali, para a criação de gado, e Benishangul-Gumuz, a maior área florestal do país onde os Combonianos estão presentes. Em Gambella, junto ao Sudão do Sul, 200 mil famílias foram obrigadas a deixar as suas terras e ir viver para 388 aldeias indicadas pelo Governo, que segue as migrações forçadas e desastrosas do regime comunista de Menghistu.

Alguns investidores estão a queixar-se de que o Governo está a faltar à palavra em matéria de benesses fiscais e querem mais investimento no sector dos transportes. A logística continua a ser um problema pois o transporte terrestre para o porto do Djibuti, através de uma estrada estreita e sinuosa e de uma via férrea obsoleta, é dispendioso e lento. Mas os Chineses já estão a renová-las.

Está por avaliar o custo ecológico da industrialização a todo o gás e da introdução da agricultura industrial de biocombustíveis, alimentos e flores, que usam químicos altamente tóxicos e nocivos para os trabalhadores, solos e lençóis freáticos.

15 de abril de 2014

MISSÃO, MORTE E RESSURREIÇÃO

«As grandes obras de Deus só nascem ao pé do Calvário» (Escritos 2325)

Faltam poucos dias para a celebração da Páscoa, mistério por excelência, que nos faz entrar na morte que marca a nossa humanidade e na vida sem limites, dom de Deus, que na ressurreição do Senhor Jesus nos faz viver no tempo da esperança e da fé.

Como podemos viver este mistério de modo que seja fonte de vida neste tempo de contrastes, tempo em que a aridez das nossas fragilidades se confronta com o convite a viver a alegria do Evangelho redescobrindo a presença sempre nova do Senhor que, do fundo do túmulo vazio, nos recorda que está vivo entre nós?

Vida e morte, passado e futuro, dor e alegria, trevas e luz, guerra e paz, ódio e amor. Além destes, quantos binómios mais marcam a nossa existência, o nosso peregrinar humano pelos caminhos divinos que nos conduzem à eternidade que não conseguiremos definir e muito menos pronunciar, com as palavras pobres do nosso atuar quotidiano?

Submergidos na corrida frenética dos nossos empreendimentos e dos nossos esforços para mudar o mundo, cada um passa a caminhada inteira com a sua visão, interesses, ideias e programas, pretendendo ter toda a verdade, saber e poder; até mais que os outros.

Vivemos com uma arrogância convertida em doença contagiosa, que não distingue entre pobres e ricos, pequenos e grandes, todos nos sentimos com o direito de criticar, assinalar os limites, defeitos, pecados dos outros. Os critérios da desconfiança, suspeição, superioridade, competição tentam impor-se e a confiança, partilha, apoio, misericórdia e perdão soam como música que irrita o ouvido e não penetra o coração.

Não é este por ventura o cenário em que nos calha viver a missão como uma proposta sempre antiga e sempre nova que impede perder-se na visão trágica, pessimista e deprimente do hoje da nossa história? Não é esta a missão vivida no silêncio, no escondimento, no anonimato que nos faz ser «pedras escondidas» que falam de uma vida que não faz barulho, que não necessita de publicidade? Não é esta a missão que nos faz viver a partir de dentro o mistério que se converte em vida?


Morte que não tem a última palavra

Hoje, mais que nunca, enfrentamos situações que vão para lá do imaginável, as notícias transforma-se em crónicas de desgraças de todas as cores.

A violência e a guerra destroem populações inteiras e condenam milhões de pessoas a fugir não se sabe até onde, como refugiados, prófugos, migrantes ou prisioneiros em seus próprios países. Estas imagens transformaram-se em coreografia de capítulos televisivos que fazem dos dramas humanos episódios de um filme que se desenrola na realidade, mas se apresenta para nós como se fosse uma obra que ganhou um óscar.

Graças a Deus que a missão nos permite narrar a história de outra maneira: é impossível calar o testemunho de todos os que viram a destruição e a morte não através do ecrã mas no rosto e nos corpos de irmãos e irmãs com quem se trabalhava, se celebrava a eucaristia, se estudava nas escolas pequenas de tetos de palha e se festejava a vida e a alegria de estar neste mundo.

Já não vemos mais a morte de Cristo sobre a cruz de madeira. Descobrimos como missionários, com os olhos e a dor do coração de tantos irmãos nossos, que o Senhor sobe à cruz da indiferença dos poderosos dos nossos dias, do esquecimento dos pobres, da exaltação do poder e da idolatria do dinheiro.

As revoltas, os protestos, as contestações recolhem o grito desesperado de tantos irmãos e irmãs que não conseguem ir para a frente, que não saber como fazer para sobreviver numa realidade que parece negar as condições mínimas necessárias para chamar vida à existência.

A grande tentação é cair na armadilha de pensar que a sombra da morte tomou posse do nosso tempo e que se impôs como critério para governar a nossa história. Mas quantas outras mortes descobrimos mais próximas de nós? Por acaso, não é a morte e destruição das missões em que estamos presentes no Sudão do Sul ou a violência interminável na República Centro-Africana onde há ainda tantas pessoas obrigadas a abandonar as suas casas por medo de serem assassinadas?

Não será a morte, a diminuição do número de missionários do nosso Instituto? Ou ter que renunciar a certas presenças missionárias que vemos claramente que ainda podiam fazer tanto bem? E não será certo que vivemos como um verdadeiro funeral o facto de ter que fechar comunidades porque não temos ninguém para enviar?

Não nos sentimos morrer quando nos negam a autorização para entrar em determinado país ou se nos nega a possibilidade de continuar o nosso serviço aos pobres, à Igreja local só porque os políticos de turno vivem de ideologia? Não é morte a mediocridade que nos ameaça cada vez que tentamos organizar a nossa vida segundo os nossos interesses pessoais, quando procuramos pretextos para justificar a nossa falta de disponibilidade para sair, obedecer, aceitar a missão como um dom que devia ser acolhido sem por condições?

A missão introduz-nos e acompanha-nos no mistério da morte, porque quando é vivida com honestidade total, não podemos dizer outra coisa que aquilo que o Senhor bradou do profundo do seu espírito: Pai, faça-se a tua vontade.

São Daniel Comboni disse-o com palavras que descrevem o cenário contemplado no coração da África: «Perante tantas aflições, entre montanhas de cruzes e de dor … o coração do missionário católico ressentiu-se por estas enormes complicações. Contudo, ele não deve perder o ânimo por isso: a força, a coragem, a esperança nunca podem abandoná-lo» (E 5646)


A missão introduz-nos no mistério e na beleza da ressurreição

Há um mais além da morte que para a missão é fundamento de tudo, a garantia de um futuro que se constrói não na base dos nossos recursos, capacidades ou forças.

A missão permite-nos tocar com a mão e contemplar com os nossos olhos aquele projecto sempre actual de Deus que não descansa, tratando de construir uma humanidade em que todos se possam descobrir como irmãos e irmãs.

Deus está sempre em acção e, apesar de irmos por outros caminhos que nos conduzem à vida, ele não renuncia ao seu sonho de ver um dia a todos os seus filhos e filhas reunidos numa só família, onde não seja mais necessário colocar etiquetas de religiões, ideologias, preferências políticas, raças, culturas ou cores. Cristo ressuscitado recorda-nos que para Deus o tempo chegou, mas ele não tem pressa, estará sempre disposto a esperar a nossa chegada, esperando que, neste tempo de espera, não haja vidas sacrificadas por causa da nossa incapacidade de raciocinar menos com a cabeça e mais com o coração.

A missão permite-nos entender a ressurreição como o milagre da vida não se deixa destruir pelo egoísmo e ambição sem limites, mas que se impõe como alegria que brota do coração divino que trazemos na fragilidade do nosso coração humano.

Por isto, não há missão verdadeira que não implique morte em nós próprios; morte não como sinónimo de destruição mas que se transforma em oportunidade para renascer finalmente à vida verdadeira que só o Senhor pode oferecer-nos como dom do Pai.

«Ele levou os nossos pecados no seu corpo, para que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça: pelas suas chagas fostes curados» (1 Pe 2:24).

Páscoa de Ressurreição feliz para todos.
P. Enrique Sánchez G., mccj
Superior Geral

10 de abril de 2014

ALEGRIA DE SERVIR


A Ir. Elizabete Almendra conta na apresentação que o «Alegria de Servir» nasceu como um exercício para praticar aulas de computação!

Abençoado exercício! A Ir. Dorinda Lopes da Cunha conduz-nos através da sua actividade missionária de duas décadas do Cordofão, no Sudão Central, até à Equatória de Oeste, no então Sul do Sudão, passando pelo Rio das Gazelas do Norte – Bahr el Ghazal em árabe.

A Ir. Dorinda conta a sua vivência de dois períodos de missão antes e durante a guerra civil nas áreas controladas pelo governo, pelos guerrilheiros do SPLA e num campo de deslocados. Situações muito diversas, mas encaradas sempre com o mesmo sorriso e a mesma vontade de servir apesar da falta de comodidades básicas e de segurança. Situações de fronteira, com serpentes e escorpiões à mistura!

A missionária comboniana de São Miguel de Vila Boa, Sátão, fala da missão como «alegria cristã fazendo amigas e amigos em Cristo, de raça, religião e culturas diferentes.»

E, invocando os anos de chumbo e de morte da guerra civil, pergunta? «Mas será que o povo do Sudão do Sul pode ainda sonhar de um dia ser livre de ter a liberdade de fazer e assumir as suas próprias opções de vida?»

Desde 9 de Julho de 2011 que parecia que sim! O país tornou-se independente do Sudão e as pessoas encaravam o futuro com esperança e otimismo. Infelizmente, a lua-de-mel durou meio ano e desde Janeiro de 2012 que os problemas se avolumaram, porque os seus líderes políticos não estão à altura do cargo. Desde 15 Dezembro de 2013, mais de 20 mil pessoas foram mortas e um milhão deslocadas por uma luta assassina e egoísta pelo poder dentro do partido que controla o Sudão do Sul desde que a paz foi assinada com Cartum a 9 de Janeiro de 2005.

A Ir. Dorinda está a vivê-lo in loco porque se encontra pela terceira vez na sua amada terra santa. Desta feita está na missão de Lomin, no Condado de Kajo Keji, entre os kukus, no sul do país, junto à fronteira com o Uganda.

Li «Alegria de Servir» de duas assentadas durante o retiro da Família Comboniana. A narrativa prendeu-me e fez-me voltar ao país que foi minha casa durante sete anos. Revivi as histórias de resistência e valor dos missionários e da gente que tinham que encontrar maneiras para sobreviver à guerra, à fome e à doença.

Obrigado, Ir. Dorinda, pelo teu testemunho de alegria, serviço e compromisso com os mais pobres do Sudão do Sul, sobretudo com as meninas e as mulheres.

O livro é ditado pela COMBONIFEM das Missionárias Combonianas.

7 de abril de 2014

CARTUM RENOVA VISTOS

O governo sudanês começou a renovar os vistos de mais de 30 missionários depois de quase dois anos de espera e incertezas.

Há quase dois anos que a notícia começou a ser uma má surpresa. Hoje em dia, alguns chamam-lhe bomba que ameaça explodir a qualquer momento. Trata-se da questão da renovação dos vistos de residência dos missionários estrangeiros no Sudão.

Cada vez que um dos passaportes do pessoal missionário dá entrada no Departamento de Assuntos Religiosos em Cartum para estender ou renovar a residência no Sudão, abre-se uma porta para a incerteza e a obscuridade do dia de amanhã, com risco de expulsão do país.

E mais: cada dia que passa, o interessado é penalizado monetariamente em 40 libras sudanesas, sendo-lhes imposto um tempo indefinido de espera sem conhecer o desenlace final do enredo.

O referido assunto da renovação dos vistos de residência não tem sido a única dificuldade por que actualmente estão a passar os missionários.

Neste contexto, já há quatro anos que o país mantém as suas fronteiras fechadas a novos missionários que solicitaram o visto de entrada no país.

Esta é uma das grandes provas e obstáculos da igreja missionária a braços com a impossibilidade de reforçar o número dos seus membros no Sudão, incluindo os Missionários Combonianos.

No entanto, não há que temer, pois sabemos que Deus conduz a história do mundo pelos seus próprios caminhos e métodos, tantas vezes desconhecidos. Cabe-nos confiar e agradecer os sinais que Ele nos vai enviando.

Desta forma, convido-vos a partilhar a nossa gratidão e alegria pelos sinais visíveis do amor de Deus: as duas renovações de residência que o governo emitiu.

Os dois primeiros agraciados foram o Irmão Paulo Aragão e P. Feliz da Costa Martins, ambos missionários combonianos portugueses.

Valeu a pena esperar quatro meses pelo documento! Mas neste momento são mais de 30 os missionários e missionárias à espera do mesmo carimbo nos seus passaportes.

Continuamos a confiar e a esperar na intercessão de São Daniel Comboni e Santa Bakhita para que a renovação de residência do resto do pessoal missionário seja brevemente uma feliz realidade.

Escusado será dizer que durante estes mais de quatro meses de espera não pude movimentar-me excepto no âmbito da capital, Cartum, e a cidade satélite de Omdurman. No entanto, não conheci o desemprego. O missionário nunca está sem trabalho. A grande extensão do deserto de Omdurman foi o meu domicílio de evangelização entre os cristãos da grande tribo dos Nubas.

O Ir. Paulo Aragão, que reside em Cartum, agora que tem os documentos em dia, pode estar tranquilo por mais um ano.

Da mesma forma, também eu agradeço a Deus mais um ano de residência no Sudão. Mas a minha alegria será ainda maior quando, dentro de poucos dias, puder chegar ao Darfur onde me espera a missão-comunidade de Nyala.

P Feliz da Costa Martins, Missionário Comboniano

4 de abril de 2014

MISERICORDIAR


Hoje foi-nos proposto declinar o verbo misericordiar como itinerário principal para a santidade.

Acordei cedo com «pulgas» no coração e decidi começar o dia com uma boa caminhada de uma hora. Foi tão lindo sentir a vida a despertar, preguiçosa, e a energizar a minha vida: os melros a assobiar, a outra passarada a responder… O céu estava escuro e carregado e não me deixou ver o Sol nascer, mas eu senti-o a subir!

O P. Fernando Domingues propôs-nos rezar a misericórdia com os capítulos 9 e 10 de Mateus.

Fui à procura do étimo de misericórdia. Gostei da leitura proposta por Santo Agostinho: uma composição das palavras latinas miser+cor+dare: dar o coração aos míseros, aos pobres, aos últimos.

«Encalhei» logo em Mateus 9:13: «Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício.»

Mateus repete esta afirmação essencial de Jesus em 12:7.

Nas Escrituras Judaicas há duas passagens similares: «porque é amor que eu quero…» (Oseias 6:6) e «a obediência é melhor que o sacrifício» (1Samuel 15:22). Misericórdia, amor e obediência são sinónimos no dicionário-base de Deus. Por isso é que a palavra misericórdia aparece mais de 100 vezes na Bíblia.

Jesus propõe-nos passar da cabeça para o coração nas nossas relações com Deus e com as pessoas, de uma relação neurótica e cerebral para uma relação cordial e de afetos. O centro do Cristianismo não são ritos ou rituais para propiciar a ira divina – por mais belos e elaborados que sejam – mas as pessoas.

É interessante notar que o Papa Francisco usa a palavra cordial oito vezes e misericórdia 29 na Alegria do Evangelho.

O pregador fez algumas afirmações interessantes hoje:

- estamos ao serviço da misericórdia de Deus, incluindo o nosso pecado;

-Comboni não viveu para se converter mas para a conversão da África;

-o pecado não é desculpa para trabalharmos menos, mas uma tentação!

3 de abril de 2014

PÃO (RE)PARTIDO


Hoje, rezámos a Eucaristia como espaço/caminho para a Santidade Comboniana a partir do texto da multiplicação dos pães e peixes (Mateus 14:13-21), passando pelo quebrar do vaso de perfume caro de alabastro (Mateus 26:6-14) e terminando na narrativa da penúltima ceia (Mateus 26:26-30). Sim, porque a última ceia é o banquete eterno do Reino que Jesus está a celebrar.

A compaixão, o sofrer com (mais do que a pena ou a empatia) é o ponto de partida para os gestos eucarísticos de Jesus que têm sempre quatro momentos: 1) Jesus tomou o pão (e o cálice com vinho), 2) deu graças/abençoou-o, 3) partiu-o e 4) deu-o.

Com estes gestos Jesus deu de comer a uma multidão e instituiu a Eucaristia.

Os discípulos só tinham cinco pães e dois peixes, mas Jesus disse-lhes: «Trazei-os aqui!» (Mateus 14:18). Talvez este seja o versículo mais curto de toda a Bíblia – apenas três palavras – mas que encerra o segredo da abundância da comida para todos: a PARTILHA! O pouco com a bênção de Deus chega e sobra: 12 cestos de restos de pão e peixe…

A fome existe no mundo porque vivemos sem Deus. Em vez de tomar o produto da terra e dar graças, as grandes corporações que controlam a economia mundial tomam os bens produzidos e guardam-nos.

Dana-me e parte-me o coração ver que, de acordo com um relatório da UNEP sobre a crise mundial da alimentação, os produtores conseguem bens suficientes para fornecer a cada pessoa 4600 kilo-calorias por dia. E uma pessoa passa bem só com 2500 kilo-calorias como pão quotidiano. A fome vem do desperdício (30 por cento da comida é estragada nos Estados Unidos da América) e de tirar a comida d boca das pessoas para a dar aos motores através dos chamados biocombustíveis feitos com a cana-de-açúcar e outros alimentos… Ou usando-os para criar animais. A UNEP diz num relatório sobre a crise da comidaque para produzir um quilo de carne um animal tem que comer três quilos de cereal!...

O Papa Francisco escreve na Exortação Apostólica Evangelii Gaundium que «a Eucaristia não é um prémio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos» (nº 47).

A Igreja católica necessita de rever a Teologia Sacramental que arreda muitos dos fiéis da mesa eucarística. Como rezamos antes da comunhão, nenhum de nós é feito de aço puro, com o coração e a alma «inoxidados» ao pecado. Somo antes indignos anfitriões que necessitamos da Palavra salvadora de Jesus.

Ámen!

2 de abril de 2014

COM MARIA


O Evangelho segundo São Mateus não adianta muito sobre Maria. Diz que é dela que nasceu Jesus chamado Cristo (1:16), que estava noiva de José e engravidou pelo Espírito Santo (1:18); os Magos viram o Menino com Maria, sua mãe (2:10) e ela fugiu com Jesus e com José para o Egito (2:13-14) e regressaram para Nazaré depois da morte de Herodes (2:19-23). Maria foi com os familiares à procura de Jesus (12:46) presumivelmente a Cafarnaum, a sede do seu ministério e foi identificada pelos nazarenos como a mãe de Jesus (13:55). 

Mateus não regista nem uma palavra de Maria: está sempre em pano de fundo, presença silenciosa, escondida. Mas também terreno fértil ao poder gerador do Espírito Santo.

Caminhar com Maria as alamedas da santidade comboniana é aceitar e acolher a força criadora e fecunda do Espírito Santo, deixar que ele me fertilize para que Deus continue a salvar.

O Papa Francisco escreve em Evangelii Gaudium – A Alegria do Evangelho que «sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto.» E continua: «Nela vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentir importantes (288).

Antes havia escrito: «Maria é aquela que sabe transformar um curral na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura (286).

O Papa argentino aborda na exortação apostólica o tema da ternura de muitos ângulos: não defrauda (3), é jeito de Deus-Pai (4), a cruz é ternura batalhadora contra o mal (85), uma revolução a que Jesus nos convida através da encarnação. A sua força experimenta-se nos encontros interpessoais (270), que aliada à justiça e contemplação é parte da dinâmica de evangelização de Nossa Senhora (288).

Proclamar a ternura, o afeto e a humildade como o caminho evangelizador numa comunidade de homens de barba rija e calejados por muitas «cacetadas» da vida não é tarefa fácil, sobretudo se se lhe juntar um modo de ser Igreja machista e misógino, cerebral mais que cordial.

A devoção à jovem de Nazaré devia conduzir-nos pelas veredas da ternura, do afeto, da humildade e da justiça: o estilo mariano de evangelização a que se junta a contemplação, a capacidade de permanecer o coração de Deus, de ver através do seu olhar.

1 de abril de 2014

JOVENS COMPROMETIDOS


Ketema, Placide e Lwanga com o P. Daniele Moschetti, provincial do Sudão do Sul

Três jovens estudantes de teologia missionários combonianos professaram seus votos religiosos de Pobreza, Castidade e Obediência na Congregação dos Missionários Combonianos do Coração de Jesus a 31 de março de 2014 em Juba, no Sudão do Sul, no fim do retiro provincial.

Ketema Dagne, da Etiópia, fez os seus votos perpétuos e formalmente consagrou toda a sua vida para o serviço da evangelização.

Ketema estudou teologia em Nairóbi, Quênia, e fez dois anos de serviço missionário na comunidade de Old Fangak, no Sudão do Sul. Vai voltar à Etiópia onde será ordenado diácono e mais tarde padre.

Os outros dois estudantes são Lwanga Gilingere Limingere, do Sudão do Sul, e Placide Majambo, da RD Congo.

Ambos renovaram os votos religiosos temporários e continuarão seu serviço missionário no Sudão do Sul onde também esperam professar os votos perpétuos no ano que vem.

P. Raimundo Rocha, Missionário Comboniano em Juba