3 de março de 2014

A HORA DA MULHER


A mulher africana começa a ocupar lugares de destaque na sociedade, apesar de ainda ter de enfrentar uma floresta de dificuldades devido ao preconceito antifeminino. 

A condição da mulher africana registou avanços significativos nas últimas quatro décadas em consequência da urbanização e da escolaridade, dois factores que requalificaram o seu posicionamento social.

No passado, a mulher era mantida fora dos centros de decisão e relegada para um plano inferior apesar de carregar o continente às costas e nos braços, produzindo oitenta por cento dos alimentos que a África come, além de cuidar da família alargada.

São Daniel Comboni intuiu o papel essencial da mulher africana há 150 anos quando escreveu na sua estratégia missionária que a regeneração da África «depende absolutamente» da «sociedade feminina africana».

Hoje, encontram-se mulheres africanas no topo mundial da cultura, artes, negócios, desporto, política, etc.

Há três mulheres a presidir aos destinos de outros tantos países africanos com quadros sociopolíticos complicados: Ellen Johnson Sirleaf, prémio Nobel da Paz, está à frente da Libéria desde 2006, e foi a primeira presidente africana eleita; Joyce Banda assumiu a presidência do Malauí em 2012; Catherine Samba-Panza, advogada, empresária e ex-presidente da câmara de Bangui, foi escolhida em Janeiro para conduzir a República Centro-Africana até às eleições de 2015 numa tentativa para estancar a sangria da guerra civil que consome o país.

Há mais duas mulheres a ocupar posições de relevo internacionais: a gambiana Fatou Bensouda é a procuradora do Tribunal Penal Internacional desde Junho de 2012 e a sul-africana Nkosazana Dlamini-Zuma preside à Comissão da União Africana desde o mesmo ano.

Mais três curiosidades: Ruanda tem o parlamento mundial mais feminino com cerca de dois terços de deputadas depois das eleições de 2013; a Gâmbia teve a primeira presidente do Supremo Tribunal da Justiça desde 2013; e a Mauritânia nomeou a primeira mulher juiz em Janeiro deste ano.

Por seu turno, a União Africana elegeu em Fevereiro último a senegalesa Bineta Diop como enviada especial para as mulheres, paz e segurança para que «as suas vozes possam ser ouvidas mais claramente na construção da paz e na resolução de conflitos». Uma medida crucial já que os homens africanos continuam a monopolizar os assuntos de guerra e paz. Por exemplo, nas negociações para o cessar de hostilidades no Sudão do Sul, que decorreram na capital etíope em Janeiro, havia só duas mulheres entre duas dúzias de delegados.

O Banco Mundial disse num estudo sobre a contribuição das mulheres africanas para o crescimento económico e desenvolvimento na África pós-colonial que desde as independências as mulheres contribuíram cinco vezes mais na economia informal e formal. O estudo realça o papel da educação, que veio relançar o papel da mulher nas actividades económicas formais, sobretudo no sector dos serviços, e reduziu a mortalidade infantil e os índices de natalidade.

Quem conhece a África sabe que apesar dos avanços, a mulher africana continua a enfrentar inúmeros reptos culturais, físicos, económicos, sociais e religiosos. Mulheres jovens e raparigas de 14 países que participaram na Cimeira da União Africana para a agricultura e segurança alimentar (Adis-Abeba, 21 a 31 de Janeiro de 2014) escreveram que o acesso inadequado a uma educação de qualidade (sobretudo nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática), desemprego, altos níveis de violência e discriminação sexual, casamentos precoces e dificuldade no acesso à terra e ao crédito são alguns dos desafios que as frustram.

A União Africana declarou 2010-2020 a década da mulher africana para promover a igualdade do género e o empoderamento das mulheres e consolidar os avanços que o génio feminino tem registado paulatinamente com persistência e sacrifício.

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