12 de janeiro de 2014

Sudão do Sul: MISSIONÁRIOS EM ALERTA

Missionários em Leer: Ir. Nicola, P. Yacob e P. Raimundo com P. Christian (de Old Fangak)

Caros amigos e amigas, muita paz.

Escrevo a vocês com mais notícias sobre a situação no Sudão do Sul. Primeiramente, quero agradecer a todos vocês pelas orações e manifestação de solidariedade para com o povo sul-sudanês e para connosco missionários no Sudão do Sul. Em segundo lugar, quero dizer que estamos ‘bem’ na missão de Leer, mas bastante preocupados porque a situação parece piorar. No geral, a situação não vai muito bem. Chega a 200 mil desabrigados e refugiados. Acredita-se que o número de mortos chega a milhares.

Em Juba, capital do país, a situação é relativamente tranquila. Em Malakal, capital da nossa Diocese, as tropas do governo estão no controle, mas volta a ter conflitos. Em Bor, capital do vizinho estado de Jonglei, os rebeldes estão no controle e pode haver mais conflitos. As tropas do governo estão agora no controle de Bentiu, a capital do nosso estado, mas isso não significa paz.

Com medo dos confrontos entre as tropas, o povo teve que fugir de Bentiu. A cidade foi saqueada e destruída. Centenas de pessoas vieram para Leer em carros, mas a maioria a pé (130km). Muitos foram assaltados no caminho. Há uma situação de insegurança quase generalizada. Muitos soldados foram trazidos feridos para o hospital de Leer. Não sabemos quantos morreram nos combates.

Enquanto Leer recebia centenas de pessoas fugindo de Bentiu, muita gente deixava Leer em fuga para povoados ou outros lugares mais ‘seguros’ por medo de um possível ataque em Leer. De facto, tivemos na missa de hoje metade do povo que costuma vir e metade deles era gente que veio de Bentiu. Muitos soldados chegaram a Leer também. Os dois padres de Mayom e um de Rubkona vieram para nossa missão. O padre de Bentiu foi para Juba.

A situação que era relativamente calma ficou tensa e temerosa em Leer. O clima é de guerra e insegurança. O medo e a tristeza no rosto das pessoas são quase palpáveis. O mercado de Leer continua fechado por medo de saques. Se saquearem o mercado vai faltar comida e não tem como chegar mais alimentos porque estamos isolados.

Nós missionários fizemos uma reunião de emergência para saber o que fazer, se ficamos ou se deixamos a missão. Consultamos os catequistas e o comissário, autoridade local que funciona como prefeito, e nos disseram que não há perigo de as tropas virem a Leer para um ataque, mas se houver perigo nos informarão em tempo. Leer é a cidade natal do líder dos rebeldes, o vice-presidente deposto.

A nossa decisão por enquanto é de ficar na missão de Leer, mas estamos em alerta e monitorando a situação. Se for preciso, deixaremos a missão e iremos para Juba num avião de resgate. Essa é uma decisão muito dolorosa, ter que partir e deixar o nosso povo. Porém, as suas vidas, assim como as nossas, são preciosas e não podemos arriscar demais. É também dolorido saber que a missão pode ser saqueada. Tudo aqui é difícil de se conseguir e de construir. Foram anos de trabalho. Isso gera angústia. A nossa esperança é que a situação se acalme e tudo volte ao normal.

Porém, as negociações de paz na Etiópia avançam muito devagar. A nossa proteção e esperança estão mesmo em Deus. Por isso, intensificamos nossas orações por paz e reconciliação com o povo da missão. O mundo todo reza por nós e conosco. Convidamos vocês a fazerem o mesmo. Espero poder escrever com boas notícias na próxima vez.

Fiquem com Deus. 

Pe. Raimundo Rocha, Missionário Comboniano em Leer, Sudão do Sul

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