25 de novembro de 2012

TEOLOGIA

A secção de Teologia do Seminário Maior Nacional voltou a Juba depois de 20 anos de exílio em Cartum.

A missa de abertura do novo ano académico foi presidida pelo bispo Rodolfo Deng de Wau na segunda-feira, 19 de Novembro de 2012.
O Seminário maior conta 37 seminaristas e um número de pessoal docente, incluindo um teólogo comboniano.
O Seminário Maior de São Paulo foi transferido de Juba para Cartum em 1992 por causa da guerra civil no Sudão do Sul.
Os bispos e líderes da diocese decidiram regressar a secção de Teologia a Juba durante a Assembleia Plenária de Outubro depois de um longo processo de discernimento: o Cardeal Gabriel Zubeir de Cartum não estava nada contente por perder o Seminário Maior nacional mas a maioria dos seminaristas vêm das dioceses do Sul e não havia condições para eles no Sudão devido às más relações entre os dois países.
A secção de Filosofia foi fechada – que já estava em Juba há mais de um ano – foi fechada por dois anos por indicação do Vaticano depois de uma visitação a Juba e a Cartum.

7 de novembro de 2012

MEMÓRIA

O padre José Ohrwalder escapou com duas irmãs e uma menina de Omdurman,
depois de dez anos de cativeiro
.

As Missionárias Combonianas celebram hoje a Memória das irmãs prisioneiras durante a revolução mahdista no Sudão.
O islamista Muhammad Ahmed declarou-se o mahdi, o guiado ou messias, que devia preparar a vinda de Deus através da instauração de uma república islâmica. Em Junho de 1882 começou a revolta mahdista contra os egípticos e ingleses que culminou com a tomada de Cartum em 1884.
Em Setembro de 1882, oito missionárias e três missionários nas estações de Delen e El Obeid, no Cordofão do Sul, foram presos e condenados à morte por não aceitarem converter-se ao islão.
A sentença, contudo, nunca foi executada, mas os missionários estiveram presos durante uma dezena de anos primeiro em El Obeid e depois em Omdurman, perto de Cartum. Uma irmã – Teresa Grigolini – teve mesmo que se casar com um comerciante grego para distrair as atenções do mahdistas que não entendiam a cosnagração virginal das missionárias.
Um irmão comboniano, que se fez passar por marido das irmãs, acabou por engravidar uma delas e fugiu. Tanto a mãe como o bebé morreram de fome abandonadas em Omdurman.
Outras duas irmãs e dois padres morreram durante o duro cativeiro devido à tortura, maus tratos e doenças. A irmã Amália Andreis foi a primeira a falecer no acampamento do Mahdi durante o cerco a El Obeid, a 7 de Novembro de 1882, quase 13 meses depois da morte do bispo Daniel Comboni.
A Irmã Paola Moggi disse-me que a memória é uma ocasião para celebrar as missionárias e missionários que permaneceram fiéis à vocação e à fé apesar das condições inumanas do cativeiro e regerssaram ao Sudão logo que o desvario mahdista terminou.
Sublinou que a memória era também uma oportunidade para as irmãs de hoje regressarem às origens, compreenderem melhor a profundidade da fé do grupo pioneiro,e fortalecer a visão e aprofundar a vocação e as motivações.

3 de novembro de 2012

THE CITIZEN



The Citizen parou hoje a sua luta diária contra a corrupção e a ditadura por estrangulamento económico.
Nhial Bol, o proprietário do único diário em inglês publicado no Sudão do Sul desde 2005, explicou na sua coluna Straight Talk - Falar Direito de terça-feira que The Citizen sessava publicação oficialmente a 3 de Novembro.
Razão: falta de dólares! Bol necessita de 30.000 dólares para comprar papel, tintas, chapas, sobresselentes e outros materiais no Uganda, mas o Banco Central do Sudão do Sul não o autoriza a sacar o dinheiro. Os stocks terminaram e a única solução foi encerrar o diário.
The Citizen era uma voz incómoda que questionava e desafiava o poder instituído em Juba. Bol foi levado inúmeras vezes a tribunal por causa das histórias que publicou.
Com o fecho, 78 empregados e 23 colaboradores perderam o trabalho. Quatrocentos ardinas também foram afetados.
The Citizen começou por ser impresso em Cartum, mas depois da independência do Sudão do Sul, a 9 de Julho de 2011, o diário montou uma rotativa em Juba, a única impressora comercial a funcionar no Sudão do Sul.
Bol tem uma televisão privada de sinal aberto, Citizen TV, pronta para funcionar antes do final do ano, para competir com a SSTV, a estação do Governo. O projeto conta com a assistência técnica de uma televisão privada do Quénia.

1 de novembro de 2012

OUTONO NORTE-AFRICANO



Um vídeo medíocre e insano ameaça transformar o sonho de liberdade e democracia da Primavera Norte-Africana no Outono do fundamentalismo religioso violento e irracional.

A 11 de Setembro – uma data carregada de tensões contraditórias – um tal Sam Bacile (pseudónimo de um egípcio copta residente nos Estados Unidos, que contou com o apoio de um pastor norte-americano que defende a queima sistemática de exemplares do Alcorão) decidiu colocar no You Tube, uma rede social de partilha de vídeos na internet, 14 minutos do seu filme «Innocence of Muslims» (Inocência dos Muçulmanos), uma paródia barata, mas extremamente ofensiva e provocadora, sobre Maomé, o profeta do Islão.
A reação da comunidade islâmica foi imediata: manifestantes vieram para as ruas do Cairo (Egito) e Benghazi (Líbia) em protesto violento contra o vídeo infame. Em Benghazi, milícias do grupo radical Ansar al-Sharia (Soldados da Lei Islâmica) atacaram o consulado norte-americano e mataram o embaixador Chris Stevens e mais três diplomatas, numa acção militar bem planeada que tirou partido da ira da multidão.
As manifestações violentas alastraram a Sana (Iémen), Tunes (Tunísia) e Trípoli (Líbia), cenários da Primavera Norte-Africana. Os protestos também se tornaram violentos em Cartum (Sudão), visando as embaixadas da Inglaterra e da Alemanha. Alguns manifestantes foram mortos e houve propriedades destruídas.
 O primeiro-ministro egípcio Hisham Qandil anunciou que alguns dos manifestantes presos durante as manifestações no Cairo confessaram que foram pagos para causar distúrbios. O ex-presidente nigeriano Olusegun Obasanjo disse que o assalto ao consulado norte-americano de Banghazi foi uma consequência do derrube violento do coronel Kadhafi pela aliança internacional. E explicou que a queda do dirigente líbio dispersou grupos radicais que estão a causar problemas no Mali, na Nigéria e noutros países. O ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, por seu turno afirmou que a aliança internacional não planeou o período pós-Kadhafi a longo termo e os distúrbios foram uma consequência.
Mas parece que alguns dirigentes norte-africanos aproveitaram a onda de descontentamento causada pelo vídeo contra Maomé para redirecionar os protestos da nação islâmica: a nova classe dirigente na Tunísia, Egito, Iémen e Líbia sequestrou a revolução e usa o fundamentalismo religioso como cortina de fumo para lidar com a frustração das multidões que esperavam mais e melhor da Primavera Norte-Africana.