30 de dezembro de 2008

LRA

Refugiados congoleses no Sul do Sudão © JVieira
Os rebeldes ugandeses do LRA (Exército de Resistência do Senhor) massacraram mais de 400 congoleses desde o Natal e cerca de 20 mil pessoas refugiaram-se nas montanhas para escapar à onda de morte no nordeste congolês.
Bruno Mitewo, o presidente da Caritas Congolesa, disse à BBC que os rebeldes mataram 150 civis em Faradje, quase 75 em Duru e 215 em Duruma, aldeias ao longo da fronteira com o Sul do Sudão.
Mitewo disse que as vítimas foram mortas à catanada e à paulada ou queimadas vivas.
O porta-voz do LRA, David Nekorach Matsanga negou que os rebeldes sejam os autores das atrocidades.
As forças armadas do Uganda, RD Congo e Sul do Sudão têm atacado campos do LRA na floresta de Garamba, no nordeste do Congo, desde o dia 14 de Dezembro.
Especialistas vêem os massacres como retaliação pelos ataques aéreos e terrestres às bases dos guerrilheiros.
Os elementos do LRA - cerca de 650 - foram acantonados na fronteira entre o sul do Sudão e a RD Congo há dois anos no início das conversações de paz em Juba entre os rebeldes e o governo ugandês.
As conversações, mediadas pelo vice-presidente do Sul do Sudão, foram concluídas em Abril, mas Joseph Kony, o líder rebelde, recusou-se a assinar o acordo final de paz exigindo a revogação do mandado de captura que o Tribunal penal Internacional passou em seu nome.
Fontes bem colocadas asseguram-me que o que Kony quer é que os negociadores dupliquem a compensação económica pela sua assinatura.

28 de dezembro de 2008

PINHEIROS & PISTOLAS

Celebração do Natal na Arquidiocese de Juba © JVieira

Pinheiros e pistolas foram as vedetas do Natal de Juba.
Os pinheiros de natal, de plástico, e com um toque de neve e luzinhas, foram vendidos por vendedores ambulantes por 12 a 15 euros. Nada mais deslocado do Natal de Juba que pinheiros com neve no Equador.
E os miúdos passaram os dias a seguir ao Natal com pistolas de plástico a estourar fulminantes numa celebração muito esquisita do nascimento do Príncipe da Paz.
Os natais de plástico também chegaram a Juba!

25 de dezembro de 2008

CRIANÇAS-SOLDADOS

Cerca de 6000 crianças, algumas com 11 anos, combatem nas fileiras dos rebeldes e das forças da ordem e milícias aliadas no Darfur, diz a UNICEF.
Ted Chaiban, o ex-patrão da UNICEF no Sudão a caminho da Etiópia, disse que o seu organismo colheu provas suficientes para denunciar que tanto os grupos rebeldes JEM (Movimento de Justiça e Igualdade) e a facção SLA (Exército de Libertação do Sudão) de Abdel Wahed Mohamed Ahmed al-Nur como o exército sudanês, a polícia e as milícias aliadas recrutam e usam nos combates menores de 18 anos.
Tudo isto apesar de o Governo Sudanês ter assinado a convenção contra o uso de crianças na guerra.

24 de dezembro de 2008

ALEGRIA - JOY

© JVieira

«Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor» (Lucas 2, 10-11).
O Nascimento de Jesus é uma grande alegria para os seropositivos e refugiados congoleses que encontrei em Nzara, Estado de Western Equatoria;
É uma grande alegria para os habitantes martirizados do Darfur, do Kivu, do Zimbabué, da Palestina, do Iraque e do Afeganistão;
É uma grande alegria para as vítimas da crise económica global e das mudanças climatéricas;
É uma grande alegria para os milhões que vivem com menos de setenta cêntimos por dia;
É uma grande alegria para as vítimas da malária, da tuberculose, da diarreia e de outras doenças que se podem combater através da prevenção e com medicamentos baratos;
É uma grande alegria se tu e eu formos alegria e encarnarmos o cuidado e o carinho de Jesus pelos mais pobres e abandonados.
Tu e eu fazemos a diferença!
Feliz Natal para ti.

«Fear not: for, behold, I bring you good tidings of great joy, which shall be to all people. For unto you is born this day a Saviour, which is Christ the Lord» (Lk 2: 10-11).
The birth of Jesus is a great joy to the HIV-AIDS victims and Congolese refugees I met during my retreat in Nzara, Western Equatoria State;
It is a great joy to the suffering peoples of Darfur, Kivu, Zimbabwe, Palestine, Iraq, Afghanistan;
It is a great joy for the victims of the global economic crisis and climate change;
It is a great joy for the millions who live with less than a dollar per day;
It is a great joy for the victims of malaria, TB, diarrhoea and other illnesses that could be cured through prevention and cheep medicines;
It is a great joy if you and me are joy and embody Jesus’ care and tenderness for the poorest and most abandoned.
You and I make the difference.
Happy Christmas to you, my dear!

18 de dezembro de 2008

ALIVE

© JVieira

It is alive. It is you,
God. Looking out I can see
no death. The earth moves, the
sea moves, the wind goes
on its exuberant
journeys. Many creatures
reflect you, the flowers
your colours, the tides the precision
of your calculations. There
is nothing too ample
for you to overflow, nothing
so small that your workmanship
is not revealed. I listen
and it is you speaking.
I find the place where you lay
warm. At night, if I waken,
there are sleepless conurbations
of the stars. The darkness
is the deepening shadow
of your presence; the silence a
process in the metabolism
of the being of love.

RS Thomas

16 de dezembro de 2008

NATAL DE PAZ

© The Nation
Os colegas da missão já se retiraram para o descanso merecido da noite. De kispo ligeiro pelas costas, venho para o pátio da missão. Fico, por uns instantes, a apreciar o tão raro e misterioso silêncio.
Quedo-me a olhar o céu pontilhado de astros. E dou comigo a pensar numa estrela única e sem igual, muito querida e desejada por todos. Não a distingo entre a multidão incontável que enche o firmamento, mas também não faço questão por isso. Não é uma estrela qualquer das que habitam o espaço celeste.
A sua presença não é notória, mas sei que está ali. Esta certeza conforta-me e conduz-me até à mencionada estrela. Ela própria me leva até à gruta onde está aquele que é a esperança do mundo. É um menino de nome Jesus.
Um grupo de pastores tinha apenas entrado. Entre louvores e parabéns, acenei à sua mãe Maria que me pôs à vontade com o recém-nascido. José, seu marido, ficou contente por me ver conversar com o Menino:
«Muita gente fala do Natal, do teu Natal, ó meu pequeno Jesus! Mas a tua mensagem de paz não entra nos seus planos e não tem prioridade na sua vida. De ti apenas sabem o nome, mas já estou a vê-los a bambolear-te de mão em mão, falando de paz como pretexto para a guerra. Porque não inventas a arma da paz como eles inventam as armas da guerra?»
O Menino olhava insistentemente para o alto, sinal claro de um convite que eu resistia em acolher e aceitar.
Disse-lhe: «Não estou mais interessado em olhar para as alturas do céu estrelado onde ficas irreconhecível entre miríades de astros.»
Ele sorriu, apontando ainda na mesma direcção, vencendo a minha teimosia.
Olhei. Estrelas transformavam-se em letras do alfabeto e, deslocando-se, procuravam um lugar no arranjo das palavras que se liam no céu: «Gloria a Deus nas alturas e Paz na terra aos homens de boa vontade.»
Verso do Livro Santo que une a terra ao céu na melodia celestial que os anjos cantavam sem interrupção.
Agora que o dia de Natal está mesmo à porta, penso em Saná, uma menina de sete anos que vive aqui em Nyala, Sul do Darfur.
Ela sabe que Deus não ama a guerra e que nos enviou a prenda mais bela: Jesus, o Príncipe da Paz. Se ao menos o mundo tivesse em consideração a pergunta que a pequena Saná, alguns dias atrás, me pousou: «Porquê a paz está a demorar tanto em chegar?»!
Naquele dia, enquanto esperava uma resposta para a sua pergunta, Saná aprendeu uma nova oração que, a seguir, rezou com o seu grupo de catequese: «Destrói, ó Deus, os muros do ódio, entre as nações; aclara o caminho para aqueles que trabalham pela paz.»
Votos de um santo e feliz Natal e próspero ano novo, repleto de paz!


Feliz da Costa Martins - Missionário Comboniano - Nyala - Darfur (Sudão)

14 de dezembro de 2008

MELHORAS

David e James com parte do pessoal de enfermagem que formaram
© JVieira

O Hospital Escolar de Juba registou nítidas melhoras no atendimento de urgências através de quatro meses de formação intensiva para pessoal de enfermagem.
Em Julho, 5,5 por cento dos pacientes admitidos no bloco de urgências acabavam por morrer. Quatro meses depois, o índice de mortalidade baixou para 4,5 por cento.
Metade das mortes ocorriam durante as primeiras 24 horas de internamento enquanto que agora só 28 por cento morre durante o dia um, uma redução de 40 por cento.
A melhoria no atendimento registou-se depois de uma série de cursos para 120 enfermeiros e enfermeiras sobre reconhecimento de sinais vitais em pacientes instáveis.
Os seminários foram ministrado por dois médicos do St. Mary’s Hospital, Ilha de Wight, Inglaterra através de um protocolo de cooperação entre os dois hospitais, o St.Mary’s-Juba Link.
Os doutores David Attword e James Ayrton empenharam-se na formação e motivação do pessoal de enfermagem durante os quatro meses que permaneceram em Juba e os resultados estão à vista! Parabéns, pois.
Os dois médicos regressaram no sábado a casa. Em Março, um novo grupo de agentes de saúde deve vir a Juba para continuar o trabalho de capacitação do pessoal de enfermagem do hospital.

12 de dezembro de 2008

PRECONCEITOS


A edição mais recente do «Oxford University Press Junior Dictionary» deixou de fora um número de palavras relacionadas com o cristianismo.
Abadia, altar, bispo, capela, baptismo, discípulo, ministro, mosteiro, monge, freira, convento, paróquia, banco da igreja, salmo, púlpito, santo, pecado, demónio e vigário não aparecem na nova compilação de palavras para os mais novos.
Os editores do dicionário justificam-se, dizendo que a prática religiosa baixou e a sociedade é multi-cultural.
A compilação também ignorou palavras relacionadas com o ambiente, plantas e animais, e inseriu novos termos como alergia, currículo, celebridade e «MP3 player».

11 de dezembro de 2008

CERVEJEIRA

Juba prepara-se para provar a primeira cerveja produzida na região depois da guerra civil e do fim da islamização.
A cervejeira sul-africana SABMill apresentou ao público a Southern Sudan Beverages Limited, um investimento na ordem dos 30 milhões de euros, que vai fabricar cervejas e refrigerantes.
A companhia conta pôr no mercado a primeira cerveja do sul do Sudão do pós-guerra em Fevereiro. O produto ainda não tem nome.
A sala de engarrafamento pode encher 12.800 garrafas (6400 litros) numa hora.
A SABMiller disse à Rádio Bakhita que vai empregar 250 sudaneses e fornecer diariamente a comunidade local com 5000 litros de água potável. Aliás, o governo local vai receber dividendos da cervejeira em troca do terreno para a fábrica.
Em 1983, a Lei Islâmica foi alargada ao Sul do Sudão e a produção e consumo de álcool proibidos nas áreas controladas pelo Governo.
Em 2005, o acordo de paz entre o governo e os rebeldes do sul, estabeleceu um estado dois sistemas e a venda de bebidas alcoólicas foi despenalizada nesta parte.
Até agora, a cerveja – cara – vem sobretudo do Uganda e do Quénia, mas também se pode encontrar marcas internacionais em lata.
A cervejeira do Sul do Sudão conta vender os seus produtos a preços mais acessíveis.

10 de dezembro de 2008

DIREITOS HUMANOS

A Declaração Universal dos Direitos Humanos fez hoje 60 anos e é um marco no caminho percorrido por uma maior humanização.
Em Juba a efeméride foi marcada com um debate sobre os direitos humanos no Sul do Sudão.
O vice-president da Comissão de Direitos Humanos no Sudão disse que o rapto de crianças e a violação de meninas e mulheres - devido às armas ligeiras nas mãos de civis - são os atentados mais graves contra os direitos humanos.
Mas esqueceu-se dos salários em atraso, das dificuldades tremendas no acesso à saúde, educação, água potável, à informação. E os casos de corrupção e desvio de dinheiro. A semana passada um sudanês do sul foi apanhado em Heathrow com três milhões de dólares na bagagem. E diz-se conselheiro presidencial!

7 de dezembro de 2008

FELICIDADES


Ángeles y Carlos,
Felicidades por vuestros diez años de matrimonio y por los cuatro hijitos, el fruto de la flor que es el amor de ustedes.

MIL PALAVRAS

Mapuordit (Lakes State): família dinka © JVieira

CARTA À ALICE


Querida Alice, minha boa amiga,
Serve esta carta para lhe agradecer «
A Vida nas Palavras de Inês Tavares».
Que registo tão atento e terno das e-moções da adolescência de hoje através do olhar profundo de uma avó tão observante!
A Inês foi a minha companhia durante o voo entre Juba e Nzara, um momento de puro encanto com um grande sorriso nos lábios. Uma hora e meia que passou num instante. Nem sequer dei conta das sacudidelas do «Caravan» tão entretido estava a desenrolar o novelo de um ano na vida da Inês.
A narrativa é empolgante, lisa, de uma simplicidade de encantar e cheia de detalhes e observações surpreendentes. A começar pela linguagem.
Uma viagem guiada ao mundo singular da adolescência – ou será «aborrescência»?
Boa amiga, só tenho um adjectivo para qualificar o diário da Inês: GOSTEI MUITO!
Faça-me um favor: continue a surpreender-nos com a sua excelente escrita, mas cuide de si.
Xi-coração.

1 de dezembro de 2008

MARES D’ALMA

A vida é o espaço que medeia entre seio da Mãe – de onde viemos – e o seio de Deus – para onde vamos.
O Mar é também o grande seio onde o milagre da vida aconteceu. Faz-nos lembrar as origens e o fim! É refúgio, inspiração, paz.
Não admira, portanto, que o Mar tenha um lugar tão importante na poesia, nos faça sentir tão bem.
E que esteja tão presente nos poemas da Elsa. Porque o Mar é o seio da saudade, utópico, virtual onde «encontrarei sempre aquilo que busco nos outros e não encontro.»
Elsa, disse-te desde o princípio que aprecio os teus «poemas escondidos». Têm vida, garra, força. E estou muito feliz por dares «a cara» àquilo que de tão profundo deste à luz.
Obrigado pelo «Mares d’Alma» que hoje deste ao mundo e por metes envolvido nesse projecto através da foto da capa e sobretudo pelos poemas que me foste enviando.

Um abraço cheio de carinho de parabéns!