30 de abril de 2008

FÉRIAS





© JVieira

Hoje voltei a Juba depois de duas semanas no Quénia. Passei dez dias em Nairobi e cinco em Mombaça. Uma maravilha!
Em Nairobi, celebrava a missa na casa das combonianas às 6h45 – ia a pé para escutar os pássaros e sentir-me parte da mole humana que caminhava apressada em silêncio todos os dias para o trabalho. São milhares e não têm dinheiro para os transportes porque não têm trabalho fixo.
Durante o dia caminhava, via filmes, lia, rezava. Convivia com os colegas, comia e dormia! E fazia compras.
Em Mombaça, estive com um colega e com um casal jovem italiano que está a adoptar uma criança queniana. Vivíamos na Maristella, uma casa comboniana a bordejar o mar num local isolado a mais.
Comíamos peixe fresco todos os dias, ia nadar, apanhava sol, caminhava na barreira de coral, lia e rezava.
Adorei contemplar o nascer da Lua sobre as águas tranquilas do Índico e gozar o silêncio acolhedor do lugar.
Apreciei estes dias de férias, mas é tão bom voltar a casa. Apesar dos 35 graus que fazia quando o avião aterrou! Em Nairobi as temperaturas são bem mais baixas e tem chovido bastante.
Já estava com muitas saudades da gente com quem vivo e trabalho!
Venho retemperado e pronto para voltar à rotina diária de editor da redacção da Rádio Bakhita.
Houve algumas mudanças: a Gladys resolveu trocar a «caça» de notícias pela angariação de apólices de seguro. Uma pena, porque a jovem ugandesa é uma jornalista de raça. Mas como pagamos mal…
Entretanto, dois sudaneses que estiveram a frequentar o curso do Centro de Formação da Rede Católica de Rádios do Sudão estão a fazer um estágio na redacção. E perspectiva-se a entrada de mais dois jornalistas, uma colega de Gladys e um queniano tarimbado na arte das notícias.

27 de abril de 2008

SILÊNCIO

Estou no Quénia desde o dia 16 de Abril para fazer um control médico e férias.
Está tudo bem comigo. Obrigado a todos pela preocupação.
O meu silêncio advém do facto de não ter acesso ao Gmail nem ao Jirenna a partir de minha casa por causa de um virus que bloqueia alguns servidores.
Volto a Juba quarta-feira!
Bom domingo!
Ah! Esta manhã o padre disse na homilia que cada amigo é uma fonte de vida! Obigado, amig@.

BIO-COMBUSTÍVEIS


© "Saturday Nation" – Nairobi (Quénia)

14 de abril de 2008

CONFUSÃO

O Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, decidiu visitar o seu homólogo do Sul do Sudão, Salva Kiir Mayardit, e deixou Juba à beira de um ataque de nervos.
Primeiro, por motivos de segurança, o Aeroporto Internacional de Juba foi encerrado ao tráfico aéreo durante quase todo o dia.
Segundo, muitas ruas da cidade estavam interditas total ou parcialmente ao trânsito.
Terceiro, o tráfico era dirigido por polícias, polícia militar e seguranças à paisana. Era só apitos, berros e confusão. Vi-me à rasca para conseguiu entrar na rádio com o carro. O polícia que controlava o trânsito não falava inglês e o meu árabe acaba depois de meia dúzia de palavras. Safou-me um segurança depois de se certificar que a estação estava a 100 metros do cruzamento onde me encontrava.
Quarto, muitas das lojas ao longo das ruas por onde passou a caravana presidencial estiveram encerradas ao público!
Quinto, além das tropas do Sul do Sudão, também havia soldados ugandeses a fazer segurança nas ruas de Juba.
Sexto, heli-canhões da Força Aérea Ugandesa patrulharem os céus de Juba e escoltaram o jacto presidencial ao aterrar e levantar em Juba.
O Presidente Museveni veio discutir a questão da recusa de Joseph Kony, o líder do LRA, de assinar o Tratado Final de Paz com o Governo do Uganda.
O Presidente mimoseou o líder rebelde com alguns títulos pouco amigos e ameaçou que o Uganda e o Sul do Sudão têm recursos suficientes para acabarem com a sublevação do LRA.
Por seu turno, o Presidente Kiir disse que o acordo de Paz ainda não está morto.

DIÁCONOS

© JVieira
O Núncio Apostólico para o Sudão ordenou ontem três diáconos da arquidiocese de Juba.
O Arcebispo Leo Boccardi disse durante a homilia que a ordenação foi o ponto alto da visita pastoral de cinco dias que fez a Juba.
Dom Leo recordou aos três seminaristas que o diácono é um servidor.
A ordenação foi uma celebração colorida levou duas horas e meia.
Além do Núncio mais três prelados estiveram presentes na ordenação: o arcebispo de Juba e os bispos de Torit e Yei.
Os três diáconos vão continuar a formação pastoral e serão ordenados padres no fim do ano.

13 de abril de 2008

RECENSEAMENTO

O Governo do Sul do Sudão decidiu adiar o 5º Recenseamento da População do Sudão na área sob a sua jurisdição.
A contagem dos habitantes do Sudão estava prevista começar na terça-feira e terminar no fim do mês.
O Ministro da Informação, Gabriel Changson, disse que a decisão foi tomada pelo Conselho de Ministros do Governo semi-autónomo.
As razões para o adiamento sine die são várias: dois milhões de deslocados sulistas ainda se encontram em Cartum, a fronteira entre o norte e o sul ainda não foi demarcada, o Governo central não entregou todos os fundos orçamentados para o exercício.
O Governo de Cartum reagiu condenando o adiamento do Recenseamento no Sul do Sudão, dizendo que as objecções do SPLM já tinham sido discutidas.
Com a chegada da estação das chuvas, o Recenseamento no Sul do Sudão não deverá ter lugar antes do fim do ano.
O Recenseamento é um exercício fundamental para determinar os cadernos e círculos eleitorais para as eleições de 2009 e o Referendo de 2011 além de determinar o Orçamento para as diversas regiões do país.

11 de abril de 2008

VIDA

© Domenica Venanzio

Deste-me tudo,
Dei-me todo.
Amei
E fui amado.
Estamos quites.
Se morrer logo
Parto feliz
Não pelo que fiz
Mas pela multidão
Que trago no coração.

9 de abril de 2008

NÚNCIO

© Cylia Sierra

O Núncio Apostólico para o Sudão chegou esta manhã a Juba para uma visita oficial de cinco dias à arquidiocese.
O Arcebispo Leo Boccardi foi recebido no Aeroporto Internacional de Juba por Dom Paulino Lukudu Loro, arcebispo de Juba, pelo Presidente da Assembleia Legislativa do Sul do Sudão, pelo Ministro de Assuntos Presidenciais, individualidades políticas e religiosas, dançarinos tradicionais e jornalistas.
A caravana dirigiu-se depois para a paróquia de São José onde o arcebispo de Juba recebeu o núncio e este saudou a multidão que se juntou na paróquia.
O Arcebispo Boccardi disse que como embaixador do Papa a sua missão tem duas dimensões: uma política e outra pastoral.
O núncio fez uma visita de cortesia ao governo do Estado de Central Equatoria e ao Presidente do Governo do Sul do Sudão, General Salva Kiir Mayardit.
Dom Leo visitou ainda o túmulo de John Garang.
Para os dias seguintes o núncio vai visitar duas paróquias fora de Juba, ter encontros com o clero diocesano, religiosos, movimentos católicos e profissionais católicos.
No domingo ordena três seminaristas de diáconos e participa numa tarde cultural.
A visita encerra domingo à noite com um jantar.

6 de abril de 2008

5 de abril de 2008

VOLTOU

A luz pública voltou hoje aos estúdios da Rádio Bakhita depois de uma ausência de seis meses! Seja bem-vinda, dona Electricidade
A última vez que a estação foi alimentada pela corrente pública foi em ... Outubro. Claro que celebrámos com regozijo a ligação dos pilotos das três fases!
Durante os últimos seis meses a factura de gasóleo da estação rondou os mil euros mensais. Os dois geradores – na estação e no transmissor – «bebem» 1000 litros de fuel por mês, o que torna o projecto Bakhita cada vez mais caro e difícil de manter.
Até porque apesar de já sermos uma marca de peso na cidade – a própria concorrência confessou à directora da cadeia que os nossos noticiários são melhores que os deles – as entradas de publicidade teimam em aparecer.

4 de abril de 2008

REJAF

© JVieira

Rejaf é o meu paraíso em Juba.
O local fica a cerca de 15 quilómetros a sul de Juba e foi aí que os Combonianos fundaram a primeira missão nos anos 20 do século passado.
Construíram uma igreja à escala de catedral, uma escola primária, um dispensário e duas residências para a comunidade masculina e feminina. Tudo em tijolos-burro feitos no local. Milhões deles.
Rejaf era um centro importante e populoso, mas a guerra civil e os ataques do LRA (o Exército de Resistência do Senhor, movimento rebelde do norte do Uganda) obrigaram os habitantes a refugiar-se em Juba.
Os missionários também construíram uma horta a um quilómetro da missão, na margem direita do Nilo Branco.
Esse é o meu espaço predilecto.
Descobri-o por altura do Natal. Foi lá que fizemos o piquenique do pessoal que trabalha na arquidiocese.
Um lugar aprazível. Velhas e frondosas mangueiras dão-lhe a sombra necessária. Do outro lado do rio, há uma colina cónica que empresta o nome.
Junto ao quintal da missão há uma pequena enseada onde se pode nadar. Vou lá à sexta-feira, o meu dia de folga.
A primeira vez que fui lá, causei algum rebuliço entre os outros nadadores. Não é todos os dias que têm um branco cheio de pelos a nadar com eles.
Agora já sou parte da paisagem. Tratam-me pelo nome e hoje até me deram uma manga.
O Nilo Branco tem uma corrente muito forte, mas a enseada resguarda-me de ir parar a Cartum!
No passado havia hipopótamos na área. Agora não. Dizem que mais a cima há crocodilos. Mas onde nado só vi uma vez uma pequena serpente.
E o pôr-do-sol em Rejaf é uma experiência única e indizível! Música para os meus sentidos, para o meu coração.
Rejaf é o meu paraíso, um oásis de paz e de serenidade. Onde me sinto bem comigo e com a vida! E que tenho partilhado com pessoas que são importantes para mim.