9 de março de 2008

HORA H

O Sudão prepara-se para a Hora H do processo de paz: o 5º Recenseamento da População, marcado para a noite de 14 para 15 de Abril. A cotagem dos habitantes de todo o Sudão decorrerá entre 15 e 30 de Abril.
O recenseamento é a pedra de toque do Tratado Global de Paz, assinado em 2005 pelo Governo e os rebeldes do Sul depois de uma guerra civil de mais de 20 anos.
Determina a partilha do poder e das riquezas entre o norte e o sul. Determina os círculos e cadernos eleitorais para as eleições gerais marcadas para 2009 e para o referendo de 2011. Determina o orçamento geral do Estado.
O acordo de paz estipula que o recenseamento devia ser feito até 9 de Julho de 2007. Mas tem sido repetidamente adiado. Contudo, espera-se que a última data decretada pelo Presidente Omar al Bashir seja final.
Mas primeiro, há que demarcar a fronteira que dividia o norte do sul a 1 de Janeiro de 1956, altura da independência do país. E definir o estatuto de Abyei, uma região especial rica em petróleo.
Por outro lado, o Sul tem experimentado alguma insegurança crescente à medida que o dia 15 de Abril se aproxima.
Houve ataques a civis nos estados de Central e Western Equatoria com algumas vítimas mortais. Foram atribuídos a rebeldes do LRA, o grupo que durante 20 anos combateu no norte do Uganda e que se prepara para assinar a paz com o Governo em Juba sob a mediação do vice-presidente do Sul do Sudão.
Testemunhas garantem que os guerrilheiros são abastecidos por helicópteros ao entardecer. Milícias usadas e abastecidas por Cartum para criar insegurança e terror no Sul? É uma hipótese viável
.
Entretanto, desde o Natal que na zona de Abyei a tribo nómada de pastores Misseriya continua a travar violentos combates com o SPLA, o exército do Sul do Sudão.

Os Misseriyas são árabes do Norte que durante a estação seca trazem o gado para as pastagens do Sul. Este ano apresentaram-se com metralhadoras pesadas montadas em «pick-ups» e sistemas de comunicação sofisticados. Os recontros sucedem-se ao longo do rio Kiir. No último fim-de-semana mais de 60 árabes foram mortos.
Alguns políticos do Sul dizem que os pastores usam o mesmo tipo de armamento que o exército sudanês e que estes os usam para tentarem puxar a fronteira mais a sul e ficar com a maior parte dos poços de petróleo no norte.
Há ainda a notar que a secção de finanças da sede da Comissão de Recenseamento do Sul do Sudão ardeu duas vezes em menos de um ano. Causa? Curto-circuito. O resultado do inquérito do primeiro incêndio ainda não é conhecido. Coincidência ou sabotagem? Vá-se lá saber!
Finalmente, a Comissão de Recenseamento do Sul do Sudão acusa o governo nacional de não libertar as verbas necessárias para poder realizar o exercício tentando asfixiar a sua operacionalidade. O presidente da Comissão disse na sexta-feira que está à espera de 7,2 milhões de dólares que foram prometidos mais 4,5 milhões para cobrir o deficit.
O recenseamento vai ser feito por 14 mil enumeradores só no Sul.
Uma coisa é certa, quanto mais o Sudão se aproxima do dia 15 de Abril, mais violência e insegurança são esperadas.
Porque os árabes não vão facilmente abrir mão do petróleo do Sul que está por detrás do «boom» económico que Cartum tem vivido nos últimos anos. E se o Sul do Sudão não tiver pelo menos um terço da população do país perde direito a metade dos proveitos do crude extraído na região.
Se a data não for respeitada, entretanto chegam as chuvas e a contagem terá de ser adiada para finais de 2008 ou princípio de 2009, altura em que muitas partes do Sul do Sudão deixam de ficar isoladas do resto do país.

Sem comentários: